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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Revendo o Aconcagua.

Traçar a rota desta viagem vem da idéia que temos dela ser um passeio diferente, uma viagem simples de fazer que substitua aquela semana repetitiva na praia.

Pensem quantas vezes a maioria de vocês viu na televisão ou leu em revistas ou livros sobre os Andes, então porque não o conhece-lo pessoalmente em uma viagem simples por uma rota igualmente fácil.

Nossa viagem é de motor-home e se iniciou a partir de São José dos Pinhais região metropolitana de Curitiba,

Saímos dia 23 de outubro à noite apenas porque estar dentro do motor-home é melhor do que em casa, já paramos para dormir poucos quilômetros adiante próximos a Campo Largo. Uma boa noite e de manhã já se dirigimos a Foz do Iguaçu.

24/10/07 – Viagem tranqüila com nove pedágios no valor total de R$100,80. Hehehe pela primeira vez eu fiz esta soma, antes simplesmente chiava e no chute dizia que gastava mais nele do que em diesel, bom, não é verdade, gastei próximo a R$170,00 de óleo.
Paramos para passar a noite em Foz do Iguaçu no Camping e Pousada Internacional http://www.campinginternacional.com.br/, ótimo lugar e um preço bastante camarada।



Acampados neste lugar estavam o Andrés e a Karina, argentinos de Buenos Aires estavam a dar uma volta de bicicleta pelo mundo jornada que irei acompanhar pelo blog http://www.elmundoentandem.blogspot.com/ .
Tandem é o nome que se dá para esta bicicleta de dois lugares।



Que bela aventura! E você com seu carro confortável ainda irão achar que os Andes é uma aventura? Efetivamente os Andes é uma aventura, mas não no sentido de arriscado e sim de surpreendente, nos próximos dias tentarei passar este sentimento pondo aqui as coisas que irão nos acontecer.

Há muitos anos digo que o grande segredo das viagens darem certo para mim é pelo motivo de sempre viajar solo (O casal é uno então se aplica a palavra). Poderia discorrer sobre diversas situações desta vantagem, mas a que me parece ser a mais significativa é que quando se está viajando assim a interatividade com as pessoas locais é muito superior e outras menores que é, por exemplo, o desejo de parar ser diferente e com o passar dos dias isto pode ser muito irritante. Acredito que as pessoas viajam juntos por segurança e esta é uma falsa premissa, por experiência própria digo que é justamente nas mazelas é que acabam se fazendo novos conhecimentos.

25/10/07

Ontem já tinha visto que a revisão do carro iria ocorrer dentro da Argentina, não teria problemas porque as concessionárias Mercedes são ótimas, mas para não termos nenhum compromisso além da diversão e relaxamento optamos em fazê-la em Foz e tudo ok, próximo ao meio dia já estávamos iniciando os tramites e fronteira. Aí vem uma seqüência de fatos que indica como é fundamental em uma viagem manter o espírito sereno e mesmo nas coisas estranhas manter o humor. Passamos à aduana brasileira e paramos na Argentina para carimbar os passaportes e registrar o carro, muito simples e se faz no mesmo guichê que é atendido por jovens bastante cordiais, logo ao lado tem uma casa de câmbio onde já convertemos nossa moeda para o peso. Na saída disto como é normal fomos parados para uma revista, abrem uns armários, algumas perguntas e depois ele pediram para abrir a garagem traseira e tchan, tchan, tchan eis o quadriciclo. Expliquei que a geringonça não tinha placa porque nas leis brasileiras este veículo é impossibilitado de andar nas ruas ao contrário da Argentina. Mostrei a nota fiscal, mas neste caso era necessário um documento x que teria de ser emitido pelo lado brasileiro. Voltamos e muito gentilmente o fiscal brasileiro que não tinha a menor idéia de que documento o outro queria pegou um formulário de transporte de material promocional e encheu de coisas referentes ao quadriciclo, daí o lembrei que o outro pediu em quatro vias então ele meteu no xérox e mandou bala. Voltamos à aduana argentina e o outro não se deixou enganar e com bastante gentileza foi até o seu escritório me mostrar qual o documento, cruzei o rio novamente e achamos o documento correto e repetimos o procedimento e todo ok. Tudo isto foi feito sem stress nenhum e digo que na minha próxima passagem com certeza já serei assim como eles uma lembrança boa embora não precisa, neste meio tempo assisti a duas situações de atritos de pessoas que querem fazer as regras e a única coisa que conseguiram foi estragar o seu passeio. Assisti a uma coisa curiosa também na casa de câmbio, na fila tinha um brasileiro com camiseta da Glock (Fábrica de armas), machão ao quadrado tanto que estava com pressa e pediu a três senhoras que estavam a sua frente para furar a fila. Mantendo esta situação apenas como curiosidade quando de fato mesmo fiquei desejando que ele passasse uns dias em uma prisão paraguaia notei que usava brinco, aí não tem jeito, Leopold vê homem usando brinco ou com tatuagem já pensa que o caboclo gosta mesmo é de usar a saída como entrada e brincar com o membro sem par dos outros. Hehehe acertei em cheio, logo mais entra uma bichona bem descontrolada e era a companheira dele.
Na menção que fiz acima sobre a lembrança boa embora imprecisa fosse exercida em uma fiscalização já na estrada em direção a cidade de Pousadas. Como é comum nas estradas argentinas o exército, a policia e as mães fiscalizam com rigor, parece ruim, mas na verdade nos dá bastante segurança, o militar que nos fiscalizou eu já conhecia da viagem anterior, como o carro era diferente acredito que ele ficou na dúvida. Então ele solicitou os documentos muito cordialmente e fez a revista superficialmente e com intimidade pediu um remédio para acidez, como eu quase não sofro com isto só tinha três marcas diferentes de antiácidos. Provavelmente se eu tivesse sido grosseiro a lembrança má teria permanecido e é um saco abrir os três mil duzentos e oitenta compartimentos do motor-home. Uma coisa curiosa fui eu entender a palavra Gun, tipo assim – Você está levando armas? Isto me arrepiou porque sempre carrego armamento espalhado no carro, hehehe a Iara entendeu a mesma coisa só que quando ele se virou estava apontando para os dez mil e quatrocentos pacotes de cigarro Kent que carrego cada vez que viajo.
Como a idéia deste relato é convidar vocês para este passeio aconselho aos que viajarem de carro comum que saiam de manhã de Foz, nós não temos problema porque paramos em postos de gasolina. Quem precisa de hotel e tem poucos dias para usufruir compensa seguir direto até a cidade de Santa Fé, é uma tacada longa, a vantagem é que é feita em um asfalto tapete e nunca vi um radar na Argentina, então só se diminui a velocidade nos cruzamentos de cidades.

26/10/07

Que dia esquisito, tudo foi muito lento, além disto, tivemos dificuldade ao abastecer porque a compra do combustível está racionada e limitada a uma pequena quantidade por carro. Não conseguimos entender por que. O fato é que o castelhano falado é difícil de entender, escrito já não. Para não haver enganos aviso aos novos viajantes que existem em vários lugares placas com os dizeres “Comedor Parrilha”, não significa um caboclo chamado Parrilha que traça todos que entram, comedor significa restaurante e parrilha o nome do prato.
Estamos hoje parados na cidade de Resistência em um camping público. Como nota está nos surpreendendo à sujeira e além dela toneladas de propaganda política coladas nas placas da estrada, postes, etc.

27/10/07
Uma manhã truncada eu esqueci de esvaziar as caixas de água servida e detritos e saímos da cidade deixando um rastro. Depois fui encher a caixa de água potável e levei um baile com o encaixe da mangueira e culminou com uma parada em um posto fiscal na fronteira entre a Província do Chaco e Santa Fé o argumento do guarda – Não estava com a luz acesa. Pedi desculpas e veio à conversa que ele ia lavrar a multa que custava quinhentos pesos, nesta o Joãozinho se esquentou e olhei duro para ele e falei – Lavre! Meio desnorteado ele começou a fazer umas perguntas e na resposta de uma delas falei a palavra mágica que evito usar, mas produz um efeito imediato. Foi uma dureza ter que agüentar ele segurando minha mão e dizendo que não faria nada e que eu estava liberado, suerte, bom voyage, etc. Qual a palavra mágica? Não vou dizer, o pedágio é tão barato aqui e todos nós somos tão roubados no Brasil que não custa vocês deixarem uma contribuição. Confesso que depois me arrependi, o guarda deve ter ficado com disenteria o dia inteiro e eu com a consciência culpada por ser tão malvado.
Almoçamos um belo filé com molho de pimenta e batatas ao creme e me acalmei legal, dormimos em Santa Fé.

28/10/07

Em direção a Córdoba passa-se por uma cidade chamada Rio Primeiro, logo na entrada da cidade, paramos para conferir e vale a pena se coincidir com horário de parada। É o Camping Centro Recreativo Municipal com bom espaço para motor-home e as tomadas elétricas estão todas novas.

Arf parece que o desejo de apresentar a coisa fácil não está funcionando, pela segunda vez se perdemos em Córdoba, não existe uma placa de sinalização que indique Mendonça ou San Luis e andamos um bocado. O final desta é um ótimo retrato desta gente tão boa que são os argentinos, se eles falassem português então...
Chegou uma hora que desisti de pegar informações, parei o motor-home e fui à procura de um táxi, parei um e pedi que ele fizesse a corrida para nós o seguirmos até a saída para Rio Cuarto. Eu cito esta cidade porque toda menção a Mendonza não funciona ou idem a San Luis. Ele não podia fazer esta corrida (Devia ser porque era hora da sesta), mas insistiu que era fácil e tentou explicar como assim fizeram os outros 346 argentinos a quem perguntamos. E lá fomos nós, quando nos sentimos perdidos novamente paramos junto a umas viaturas policiais que estavam lavrando uma ocorrência para repetir o pedido. Aí pasme, o policial iniciou a explicação e parou vendo que a coisa era complicada mesmo porque estávamos do lado completamente contrário da cidade e decidiu nos comboiar o que o fez deixando-nos no lugar que precisávamos. Já na estrada paramos em um posto YPF e ficamos para pernoitar e com o belo atendimento deste pessoal a paz voltou. Em parte infelizmente, existem ingredientes da nossa vida que amargam e para isto não consegui chegar a uma solução.

29/10/07

Pedaço voador este de Córdoba a Mendonza, longos trechos de pista dupla que se tivéssemos com um carro correto tipo BMW ou Porsche poderia se manter velocidade de cruzeiro em torno de 250 km/h com muita facilidade e segurança. Paramos próxima a cidade de Mendonça em um belo posto onde nos cederam uma tomada (Entuje) e água já com a mangueira instalado a dez passos de onde paramos. Para os que vierem aqui de carro obviamente os lugares que irão parar serão diferentes, acho que existe uma excelente variedade de hotéis já que toda esta área oeste da Argentina é altamente turística.
Amanhã já estaremos cumprindo a meta da viagem, iniciaremos a subida dos Andes.

30/10/07

Enxergando os Andes ainda no autopista que leva a Mendonça.


Subida confortável. Cada vez melhoram esta estrada e os aclives não são acentuados. Muito bem dividido os aproximados cento e quarenta quilômetros que levam ao topo, nós fomos direto ao Parque Nacional do Aconcagua.
O parque recebeu alguns melhoramentos, a estrada de acesso agora é de concreto e o pátio de estacionamento plano. Além disto, as vias de passeio estão sinalizadas se tornando uma caminhada agradável de uma hora aproximadamente. Para ela uma garrafinha de água é o suficiente. Para os mais energéticos a trilha continua e pode ser uma bela caminhada, neste caso levem mais coisas e até podem fazer o almoço na trilha. Procurem sempre o guarda-parque, que fica na casa no começo da trilha. Ele informará as condições climáticas previstas para as próximas horas, não subestimem a temperatura e também a altitude. Coisas que fazemos rindo lá significam uma falta de ar dolorida que vira uma dor de cabeça bem chata, como nos diz o Tiarajú alpinista calejado, comece a respirar antes de fazer o esforço.
Se quiserem se divertir mais levem consigo pedaços de pão ou bolacha, sempre tem uns patos e também passarinhos que não sentem nenhum medo dos humanos.
Nós chegamos e a gloriosa dama estava com seu véu, isto é normal, para se ver ela despida há de se ter paciência, mas o pior, muito pior não havia neve na base, só nos cumes। Então tiramos o quadriciclo e fomos tentar fazer a trilha com ele sem perguntar nada. Hehehe o Daniel (Guarda-parque) já nos pegou no inicio e nada feito, Trilha só a pé.



Aproveitamos que o quadriciclo estava fora e descemos até o hotel Puente de Los Incas que fica uns quilômetros próximos ao parque para almoçarmos। Voltamos e fizemos a trilha a pé.



O tempo estava um pouco confuso, muito frio e o outro guarda-parque uma mocinha nos falou que a previsão era de chuva, arf pelo meu conhecimento nesta altitude não chove então quem sabe viesse uma nevasca que é uma das coisas mais lindas de se ver e viver.
Não veio e lá pelo meio da noite acordamos e o céu estava muito limpo, descrever as estrelas (A lua só estava surgindo de madrugada) é algo complicada, são bilhões e bilhões visíveis formando uma poeira azulada, as mais conhecidas estavam enormes. Lembre-se que este céu só é possível nesta altitude tanto que nos Andes se encontram muitos observatórios astronômicos.
Pela manhã com a primeira claridade ainda difusa olhamos para o Aconcagua, ela estava peladona com seus dois cumes visíveis. Foi só esperar um pouco que já sabíamos por experiências anteriores os primeiros raios de sol iriam iluminar o seu topo muito antes do que qualquer outra coisa e assim o foi Neste cenário espetacular dissemos um até breve e começamos a descida.
Nesta volta destaco novamente a autopista Mendonça / San Luis, a Iara comentou que devia ser a maior reta que conhecíamos, são cento e vinte quilômetros aproximadamente para a primeira curva. Na hora discordei porque na Patagônia pode-se dizer que há retas maiores, mas nenhuma delas é totalmente isenta de cruzar uma cidade, neste caso não há nenhuma cidade e nem um posto de serviço. Nada absolutamente nada interfere e o mais curioso, ela em toda sua extensão é iluminada, os postes se encontram a uns quinze metros um do outro formando um desenho único.
Paramos muito próximo a Rio Cuarto e amanhã provavelmente já estaremos no Brasil. Entraremos possivelmente por Uruguaiana, mas os viajantes de carro podem ir por Buenos Aires e passar de balsa para o Uruguai, aproveita para conhecer Punta Del Leste e entram no Brasil por Chuí que é o ponto mais meridional do Brasil.

01/11/2007

No Brasil uma pinóia, a coisa é um pouquinho mais longa, de motor-home mantemos a média entre 90 a 100 km/h então este parâmetro de tempo que usamos não se aplica para carro. Estamos parados para pernoite ainda distante 400 quilômetros de Uruguaiana.
Hoje passamos o túnel sobre o rio Paraná que liga a cidade de Santa Fé a Paraná, uma bela obra de engenharia.
Neste posto conhecemos duas pessoas interessantes, o Senhor Almerindo e o Celso, o primeiro muito calejado de América do Sul e o outro meio que estreando, são motoristas da Transportadora Rebecca. O Almerindo nos brindou com ótimas histórias de viagens e uma em especial nos pegou, indo pelo Mato Grosso e entrando na Bolívia por Cáceres/ Santa Cruz de La Sierra sobe-se a Cochabamba e a estrada alcança a fantástica altitude de mais de 6.000 metros e tudo por asfalto. Volta-se pelo Chile para não repetir o caminho. Muito importante foi o quanto ele falou bem do povo boliviano. Outra coisa curiosa e muito importante foi que de todos os países da América que ele viaja o melhor é o Uruguai.

02/11/07

Estamos no Brasil, o que seria um pedaço de viagem tranqüila se torna mais um treino para o saco. Passamos bem pela fronteira, os tramites do lado argentino, um rapaz que fica fazendo bico de despachante nos orientou e isto ajudou muito, se for contar com as placas de sinalização arf. Mesmo assim é a pior fronteira disparada e quando se passa à ponte se vacilar como eu fiz então...
De carro isto não aconteceria por causa da altura e explico. No meio da ponte já tinha uma fila de caminhões então paramos também imaginando que era uma segunda aduana para cargas, nisto os carros continuaram passando pela esquerda e nós fomos atrás, depois de uns dribles na fila pegamos uma via para automóveis e aí quase a morte. No último instante a Iara gemeu ao mesmo tempo em que eu vi um trilho de trem colocado à altura dos nossos rostos e tive que frear com toda a violência (Santo ABS) para parar a uns cinco centímetros do famigerado. Arf quando eles quiseram dizer automóveis deixaram bem claro isto. Haja ré e consegui ficar ao lado da fila, com tudo parado aproveitei para pedir desculpas ao caminhão do lado e pedir que quando a fila andasse nos deixasse entrar, tudo ok e um longo tempo depois eles se mexeram. Chegando à parte de baixo novamente uma indicação Automóveis e Caminhões, nem vacilei e fui para o lado dos caminhões temendo outro trilho pendurado, incrível, quando me dei conta estava em um estacionamento lotado e intransponível. Parei e fui conversar com o pessoal para me pôr a par do que estava acontecendo. Era o trâmite de entrada de mercadorias no Brasil e todo aquele pessoal estava mofando porque mesmo já cumprido a papelada o gentil funcionário público e evidentemente um petista não estava lá para liberar. A sim, olhei por onde devia ter entrado e era realmente pelo lado dos automóveis. Um outro longo tempo depois conversando com o pessoal (Muito impressionado pelo conformismo dos motoristas, graças a eles a economia se movimenta, mas são tratados como lixo.) até que um muito bacana se dispôs a nos ajudar, e um caminhão para lá, outro para cá conseguimos passar e surpresa, não havia uma viva alma atendendo e fomos embora.
Doce Brasil de fartura de água, na Argentina para enchermos a caixa é quase sempre uma apresentação de tango, lavar o pára-brisa nem pensar, para isto tem que se pedir e o efeito desta pedida são sempre estranhos.
Estamos pernoitando próximos à cidade de Alegrete.

03/11/07

Fazia tempo que eu não andava pelo Rio Grande do Sul o estado Argentino mais a leste da América, sem dúvida a rodovia que liga Uruguaiana a Porto Alegre tem um charme muito especial, de bom traçado e paisagens únicas. Mas...
Ela é limitada a oitenta quilômetros por hora, tanto para automóveis como para ônibus e caminhão. Uma imbecilidade tão grande que ainda se multiplica quando se aproximam de lugarejos, cortiços ou entradas de estradas que nem merecem este nome. Aí a velocidade cai para sessenta. Pode-se pensar que estas placas foram colocadas quando os escravocratas do PT dominaram a região e elas não têm mais serventia, mas os radares instalados a atualizam, uma indústria da multa! Depois de tantos anos viajando eu acho que esta marcação de velocidade é totalmente incorreta e não para mim que mantenho 90 km/h como velocidade oficial (Ônibus) e acho que ela está bem regulamentada assim como 80 km/h para caminhão (Discordo nomearam a Sprint e a Iveco leve como tal, estão mais para automóveis e a velocidade de 100 km/h seria condizente), mas um automóvel? Pegue a pior coisa fabricada pela indústria brasileira e venha para esta estrada fazer uma viagem a 80 km/h, sentirá o quanto de verdade estou colocando. Mesmo esta diferença de dez quilômetros no meu caso já é de um efeito impressionante e as vantagens para segurança nenhuma até pelo contrário acho que aumenta porque a desconcentração é uma inimiga do piloto.
Estamos pernoitando em Santa Catarina, já há alguns dias estamos sofrendo de um problema que está se agravando, nossa caixa de água servida e detritos estão com uma fratura exposta e molhamos onde paramos. Isto nos impossibilita de passar alguns dias em Santa Catarina que tem excelentes campings.



04/11/07
Sol brilhando, céu azul e praias maravilhosas, que dia! Infelizmente infestados pelos da nossa raça, chegar perto de uma praia até desconhecida significa um congestionamento de quilometro, as conhecidas então...
Bom em algum lugar vai sobrar um espaço na areia e no estacionamento, passamos por uma família triturada em um Santana Quantum. Não conseguimos entender o porquê do acidente, os corpos estavam ainda presos e o socorro presente é socorro mesmo um Fiat ambulância destes que não servem para nada e são vendidos apenas como efeito publicitário de campanha para eleição.
Muito triste de se ver é a enorme quantidade de cachorros abandonados na estrada.
Estamos na casa fixa e descubro que levaram meu computador, sei quem é o criminoso e só me resta gemer.

sábado, 14 de abril de 2007

Feira de Ciências – Passo Fundo – RS.

Lembranças, lembranças, lembranças... Esta história que ocorreu pelos idos de 1968 e retornou a pouco pelo reencontro de uma de suas participantes hoje a Senhora Fátima Ribeiro.

Quanto às datas é muito difícil precisar, imaginar que um jovem de aproximadamente treze anos pense que aqueles momentos formarão a história da sua vida é querer muito apesar de que hoje eu daria este conselho a um jovem de fazer o seu diário, ler a própria história é vivê-la duas vezes. Mas os fatos abaixo descritos foram reais e de uma maneira que só a internet hoje pode proporcionar talvez os amigos que dele fazem parte poderão testemunhar e também poderão colocar como eles viram a mesma situação vivida. Com exceção do meu grande amigo Victor Emanuel que já é falecido há quase trinta anos.

Estudava eu no Colégio Estadual do Paraná em um sistema chamado classes integrais que consistia em uma nova experiência de ensino em que o aluno estudava de manhã e de tarde. Éramos uma turma poderosa selecionados por um vestibular e basta dizer que desta turma os únicos que não se tornaram doutores em medicina, engenharia, etc. fui eu que sou comerciante e um amigo chamado Sérgio Machado que se tornou executivo de fronteira trazendo muamba do Paraguai. O Lee personagem que mencionarei a frente me consta que se formou, mas também se encaminhou para o comércio e é o proprietário da Casa China em Ciudad Del Est.

Esta ida a Feira de Ciências de Passo Fundo iniciou-se ainda em Curitiba quando o colégio foi sede da FEMUCI – Feira Municipal de Ciências। Por algum motivo que não me recordo e não posso ver a lógica, dois companheiros de sala o Tito Livio Ronconi e o Lee Tse Tchun me convidaram a integrar a equipe, o projeto deles era expor foguetes que efetivamente voavam e mais um aparelho que utilizando o teorema de Pitágoras nos dizia a que altura ele tinha chegado. Bem eles não erraram muito, se eu não tinha os predicados deles em relação a uma vida mais regrada não me furtei a colaborar e uma das tarefas era arrumar uns tubos de papelão grosso que servem para enrolar tecidos, eles serviam para formar o corpo do foguete, o combustível que era uma mistura que entrava açúcar e outros ingredientes que mesmo citando eles trocentas vezes por dia enquanto duraram ambas as exposições hoje não me recordo mais a não ser o quanto ele era muito inflamável. O cordão de partida era um estopim que o exército forneceu (Não me lembro como?) só o fato que dispúnhamos dele em quantidade suficiente para testes e demonstrações.


Na FEMUCI em Curitiba – Da esquerda para a direita – Lee Tse Tchun, Tito Livio Ronconi, eu e o Victor Emanuel Mendes e Silva.
Por que estava sem uniforme no dia desta foto não sei e para não pensaram que eu era um marginal querendo destoar do resto pela aparência digo que não e cito que inclusive em uma saída de final de aula a diretora me escolheu por estar com o uniforme mais correto (Thanks Mammy) para participar e entregar um... Placa? Flores? Milhão de dólares? Para um diretor? Chefe da Tribo? O fato é que fui lá e entreguei a ele na frente de um monte de gente em um auditório do colégio e se me lembro que o nome dele era Eros Gradowski talvez pelo ritmo, o nome tem uma sonoridade agradável como também me lembro e gosto da pronúncia de Irmãos Knolfoltz que eram os proprietários das lojas de malas Ika. Duro na vida é se chamar João.



A foto tinha finalidade de comprovar que eu andava arrumado, mas de repente olhando a minha escrivaninha se tem uma idéia da época, o rádio de pilha era o som, a flâmula do Atlético Paranaense tem o retrato do Jofre Cabral, o boneco Mug era o do Chico Buarque। Foto de João Batista de Mello.


Tenho certeza que fomos muito bem nesta feira, não que me lembre disto, mas como fomos os únicos a ser indicados para participar em nome do Paraná da Feira de Ciências de Passo Fundo o nosso negócio devia ser muito bom.

O fato é que não me lembro como pegamos as passagens e outros detalhes, mas me lembro de um fundamental, era necessário alguém de maior nos acompanhar e eis que eu proponho a equipe que levássemos o Victor que conforme podem conferir na foto já era um adolescente com cara de maduro embora fosse apenas um ano mais velho que eu. Bingo a equipe aceitou e a responsável do Colégio engoliu que ele era maior de idade.

Os detalhes se espraiam, então a recordação é que cada um de nós ficou separado e em uma casa de família e o nosso ponto de encontro era na feira. No primeiro dia fizemos à instalação, no segundo foi aberto ao público e no terceiro foi uma demonstração em um campo em que lançamos o foguete juntamente com outras equipes do Brasil que tinham usado o mesmo tema.

Então a seqüência segue em flashs:

Minha primeira namorada oficialmente falando, não que mocinhas, moçonas e senhoras fossem desconhecidas, a lembrança disto remonta ao jardim de infância, mas com o tratamento oficial de namorada aconteceu nesta bela cidade de Passo Fundo e ela se chama... Chama-se... arf talvez Sônia? Regina? Quem sabe a moça que ofuscou este namoro saiba por que foi ela que desencadeou a vontade de colocar este relato e o nome dela não esqueci e ótimo saber que ela também não me esqueceu estou certo Fátima?



Algo muito curioso aconteceu que marcou intensamente em uma fotografia mental, em determinado momento na feira precisei de banheiro e não quis usar o comum a todos, então ela e eu fomos até a casa que eu estava hospedado e me instalei no trono, o banheiro é minha igreja e nele o tempo para, quando eu saio (É Regina, sim eu acho que é Regina) lá estava ela no meio da sala de pé com as pernas se cruzando apertadas em volta de um lago de urina hehehe, esperar o Leopold sair do banheiro continua sendo dramático até hoje e ainda mais que ele é uma mini-biblioteca. Sei que não dei importância e que me lembre ela entrou no banheiro se recompôs e voltamos à feira. Doces beijos terno e breve namoro.

Na feira fomos muito bem e o nosso stand era muito visitado, sempre que terminávamos a explanação do funcionamento do foguete e de como mediamos à altura que ele alcançava nós fazíamos uma demonstração do poder do combustível que o impulsionava queimando uma porção pequena que surtia um belo efeito. O grande efeito foi quando por minha culpa deixei próxima a lata que tinha toda mistura que usaríamos naquele dia e a explosão resultante foi realmente atrativa. Ninguém se feriu e recompusemos o stand.

Em breve o Victor apareceria também com uma namorada que acabou se tornando uma grande amiga a Dagmar. Paixão forte dele mais adiante ela acabou indo para Curitiba ao nosso encontro. Uma amizade inesquecível que a longo tempo não revejo, mas que talvez agora pelo contato com esta minha amiga que desencadeou o relato a Fátima talvez ela acabe criando esta possibilidade.
E a Fátima? Esta bela senhora que mencionei no inicio do relato foi à razão da dissolução do meu primeiro namoro (Que vida longa em apenas três ou quatro dias), não me lembro quando eu a vi pela primeira vez, mas sei que fiquei enfeitiçado pela beleza dela e terminamos indo juntos em uma festa de encerramento que se realizou em uma boate (?) na cidade। Algumas coisas eu me recordo desta situação, primeiro que não chegamos a namorar, segundo é que nesta boate nós sentados na mesa e ela me convidou para dançar e está uma coisa que até hoje eu sou completamente inabilidoso e terceiro quando veio um rapaz para tirar ela para dançar, aí a coisa ficou esquisita e me lembro que enquanto eu falava ao mesmo tempo cutucava o Victor que estava dormindo junto à mesa em umas cadeiras que ele havia juntado, o fato que ele acordou viu a situação e se levantou e disse para o caboclo que a menina estava comigo deixando bem claro que não haveria mais respostas e conhecendo o Victor e sabendo da violência que ele era capaz digo que foi saudável a pessoa pedir desculpas e se retirar. Seja como for ou por eu não dançar ou por o Victor atrair sem intenção os olhos desta moça sei que fiquei sem ao menos sentir o gosto dos seus lábios, mas em troca fiquei com uma amiga que este ano me encontrou e a nossa amizade foi reativada pelas facilidades da internet.

Fácil de entender o porquê desta paixão, a Fátima é a primeira à direita.
Quando fomos ao campo para lançarmos nosso foguete mais cinco equipes também iam fazer seus lançamentos, que eu me lembre só uma do Rio de Janeiro conseguiu o intento com um belo efeito, inclusive o corpo do foguete deles era de metal e com tanto funcionalismo público e tantos militares lá não me surpreenderia se eles tivessem tido a assistência de um técnico. Mas se a nossa intenção não foi cumprida a risca a balburdia que criamos também não deixou a monotonia tomar conta, quando acendemos o nosso estopim ele acabou falhando criando uma situação complicada, então eu voltei na plataforma e com a ponta de um cigarro o reacendi como o tempo daí era muito curto para a ignição não consegui firmar bem ele e quando deu a partida saiu da guia e disparou rente ao chão, para um foguete projetado para ir a uns quatrocentos metros de altura dá para imaginar a confusão no publico, para sorte geral ele acabou subindo e desapareceu em um lado não habitado.

Voltei um par de vezes a Passo Fundo, levei um pouco de mim para ela e trouxe muito dela para mim.

domingo, 8 de abril de 2007

Muito prazer Aconcagua!

Esta é uma história real em que a precisão do tempo acontecido se perde, mas as precisões dos intervalos que os fatos ocorreram são quase absolutamente corretas.

Ela começa em um dia da semana (Quarta-feira?) pela manhã quando este meu grande amigo Tiaraju Fialho representante comercial e alpinista se encontrava no meu escritório. A base que iniciou o nosso conhecimento foi profissional e a que iniciou a nossa amizade foi o profundo gosto em ouvi-lo contar suas experiências em montanha. E para não variar nesta manhã ele estava a me contar a sua tentativa de escalar a montanha chamada Aconcagua na cordilheira dos Andes, o pico máximo em altura nas Américas e um dos mais altos do mundo somente perdendo para as montanhas da cordilheira do Himalaia que tem em seu máximo o Everest.

Em determinado momento perguntei – Tiaraju é possível como turista visitar a montanha? A resposta foi positiva e incluiu até uma pousada próxima “pero no mucho” do parque onde se situa a montanha. A pergunta seguinte mais ou menos literal – Vamos já para lá? Retirando aqui da escrita uns pequenos preâmbulos ele sacou do bolso um cartão do hotel Puente de Los Incas (Que bela coincidência) e ligamos para lá para confirmar se era possível visto que era inverno. A resposta do hoteleiro foi que era possível, mas que ele não indicava porque já estavam com mais de seis metros de neve acumulado. Em seguida em breves palavras – Tiaraju você arruma as roupas para irmos para lá? Sim – Você compra as passagens em Curitiba? Sim – Vamos? Sim. E ele se mandou para providenciar. Logo no começo da tarde recebo uma ligação dele me perguntando – É sério mesmo esta história? Putz Tiaraju é sério mesmo falei então ele riu e falou que já estava com as passagens na mão e logo mais traria as roupas para eu experimentar.

As roupas de alta montanha são algo espetacular, relativamente leves são projetados para enormes frios frutos de uma alta tecnologia com exceção das botas que pesavam muito e consistiam para a proteção dos pés em uma meia especial depois uma bota de couro forrada e mais uma bota de plástico duro que se vestia sobre a outra bota e daí finamente os grampos para gelo. As roupas e as botas vestiram sobre medida embora até hoje ainda não agradecesse ao alpinista a quem o Tiaraju pediu elas emprestada. O resto do material do acampamento ele tinha e as nossas mochilas ficaram somente com aproximadamente 70 quilos cada uma como atestamos na balança do aeroporto.

Na manhã seguinte fomos de carro para São Paulo e pegamos um avião para Buenos Aires onde descemos no aeroporto de Ezeiza e em seguida fomos de táxi até o outro aeroporto chamado Aeroparque Jorge Newberry onde saem os vôos internos do País e lá embarcamos no avião para a cidade de Mendonza que fica no sopé dos Andes.

É muito necessário para um perfeito entendimento desta bela aventura é conhecer o Tiaraju, naquela época como até hoje ele é uma pessoa que se diferencia imediatamente de qualquer grupo de humanos, a sua altura é normal, mas seu corpo não tem uma gota de gordura, tudo nele são músculos e seus pés e mãos são na verdade garras e ganchos que ele utiliza para escaladas livres em pedras o que ele faz com incrível naturalidade. E absolutamente não tem o menor receio de altura como irão ler mais adiante no meu relato. A foto abaixo foi tirada por mim no Aeroparque.


Olhem abaixo mais de perto:

Uma bela figura forjada para as montanhas.


Chegamos a Mendonza próximo às quatro horas da tarde e já providenciamos as compras de passagens do ônibus que nos levaria para o alto dos Andes. Providenciamos um hotel e fomos conhecer a cidade e comprar alguns outros mantimentos. Era a minha primeira viagem a Argentina e as experiências relatadas do Tiaraju não davam uma boa característica da índole dos argentinos. Ele é uma pessoa altamente explosiva e digo com tranqüilidade de extrema periculosidade em uma briga, o incauto que o subestimar provavelmente irá ficar com a respiração falha para o resto da vida se uma daquelas mãos alcançarem o pescoço. O fato pelos relatos e pelo que eu sentia esta tensão era meio rotina estando com ele e eu ainda não sabia por que isto ocorria. Em Mendonza fomos a um café e meio como de costume entramos e sentamos. Putz nós levamos um banho de cadeira porque nenhum garçom nos atendia e antes que o Tiaraju decidisse quebrar tudo fomos até o balcão onde nos atenderam com completo descaso. Comigo sempre apaziguando os argentinos escaparam desta e eu me pus a refletir o porquê disto. Antes de chegarmos a Puente de Los Incas já tinha chego a uma conclusão que era – Não se antecipa a nada, entra-se no comércio ou no ambiente deles e espera-se ser atendido e daí, e daí caros amigos é só o prazer de usufruir uma hospitalidade e um atendimento cortês e preciso. Depois de várias viagens a este País maravilhoso eu confirmo esta fórmula de absoluto sucesso e que tantos brasileiros acostumados a comer por quilo e usarem ambientes self service não percebem.

De manhã em um belo ônibus bem envidraçado começamos a jornada em uma das belas estradas do mundo.


Começando a ver neve ainda longe do final.


Ainda pela manhã chegamos ao hotel que já fica próximo aos quatro mil metros de altura e eu assumi a liderança em assuntos que exigiam trato pessoal, em hipótese alguma gostaria que acontecesse algum dissabor que viesse a macular aquela aventura e digo que valeu a pena, o atendimento foi muito além das expectativas.

Devidamente instalados e com a firme decisão de no dia seguinte ir acampar no lago Orcones que fica quase aos pés do Aconcagua e se tem uma vista fantástica desta montanha fizemos deste primeiro dia um teste para saber o quanto eu estava fisicamente apto então vestimos nossas roupas e fomos caminhar primeiro andamos em torno das fontes de águas quentes desativadas (Terremoto) que ficam do lado esquerdo e depois fomos à direção do Aconcagua onde subimos um bocado forçando bastante eu porque para o Tiaraju era um passeio no parque. Um exemplo foi uma subida em um morro de neve que usamos para cortar o caminho em direção ao parque, parecia simples e singela, com uma perna de cada lado da franja a sustentação parecia perfeita isto até chegar ao meio do caminho, enquanto o Tiaraju prosseguia subindo alegremente cantando “The single in snow” o Leopold subia de quatro babando. Já na volta e comigo implorando por açúcar tomamos outro corte de caminho que passava por uma ponte de trem desativada há muitos anos, a idéia de passar por ela me arrepiou, mas a enorme confiança do Tiaraju e um corrimão merreca juntada com uma passarela que mal dava para um rato passar me deram à coragem necessária. Na verdade o que me incentivou realmente foi à absoluta falta de energia para voltar atrás e pegar o mesmo caminho de ida. Fui à frente passo a passo concentrado e eis que o Tiaraju me passa saltando os poucos dormentes e umas placas de metal que havia a cada espaço. Aquilo quase me derrubou, a facilidade com que ele se equilibrava em coisas que não tinha a largura de um meio-fio a uma altura de uns oitenta metros (o Rio Orcones era um filete lá de cima) me obrigou a se agarrar em um cabo e pedir a ele que parasse com aquilo senão inevitavelmente eu cairia. Ufa ele parou e ficou atrás de mim o resto da travessia. O fato é que na volta eu estava acabado, necessitava de açúcar urgente e me recordo bem no Tiaraju ter se lastimado de não ter pensado nesta situação. Chegamos ao hotel e expliquei a necessidade para o Senhor Armando, um garçom de outro planeta em atenção a nós e logo em seguida ele nos trouxe uns potes de geléia, pão e umas canecas com chocolate quente. Se de manhã quando eu acordasse não tivesse paralisado por dores musculares haveria esperança de concretizarmos o objetivo e bingo eu acordei inteiraço!

Cedo tomamos o café e nos vestimos para a expedição que basicamente era o mesmo caminho do dia anterior multiplicado por três e com o diferencial das mochilas. Estava me sentindo muito bem e o dia estava de um azul que só existe em alta montanha, a visão não encontrava nenhum obstáculo e tudo se encontrava enganadoramente perto.

Acompanhou-nos nesta jornada uma cachorra da raça pastor alemão e mais um cachorro de marca desconhecida (Ambos com base montada no hotel) que curiosamente era totalmente submisso a ela. Enquanto subíamos, eles não paravam de correr ora atrás de lebres e boa parte por puro prazer da liberdade e do se sentir vivo. Nestes momentos em que tudo é gigante e nós tão pequenos no ambiente acontece algo com o nosso espírito que nivela tudo e pelo máximo e isto explica o imenso amor que tantos têm pela montanha.


Tiaraju à frente eu fotografando.


Continuando, Tiaraju à frente e no fundo... - Muito prazer Aconcagua, eu vim lhe conhecer e dizer que nunca tinha lhe visto pessoalmente, mas já a amava profundamente.

A primeira visão do Aconcagua foi maravilhosa, a montanha nos recebeu com a máxima beleza possível, mesmo se encontrando a uns dez quilômetros do topo senão mais a visão era claríssima e digo depois de tantas vezes que lá retornei rara porque nas outras vezes sempre encontramos ela com véus de nuvens e necessitamos aguardar o momento que ela se descobria.

Eu na frente, Tiaraju fotografando, Aconcagua ao fundo. Sempre rio desta foto que virou um pôster, aparentemente é o João saúde em uma aventura, mas no caso presente eu estava terrivelmente cansado e estava parado pela absoluta impossibilidade de ir à frente.

Caminhamos, caminhamos, subimos, subimos e nada do lago Orcones nossa meta. Chegou um ponto que não era mais uma questão de parar para descansar, eu não podia mais ir em frente. Então o Tiaraju deixou a mochila e foi procurar sozinho o lago e o fez correndo até sumir de vista arf. Quando voltou a surpresa, nós já estávamos no lago só que a neve tinha coberto tudo. Aí montamos a barraca vírgula, ele montou, pois no meio da montagem eu arriei e entrei em coma por algum tempo. O Tiaraju fotografou (Não achei a foto, quando achar eu põe aqui) eu deitado com a boca aberta. Quando acordei a barraca estava pronta e ainda deu tempo de fazer algum passeio próximo aproveitando o belo dia.

Já restabelecido.

Já noite fomos para dentro da barraca e por causa do frio intenso íamos ter que jantar dentro dela. O Tiaraju decidiu fazer panquecas e para isto usou um fogareiro. Hehehe na próxima fez que isto acontecesse vou preferir nadar pelado no Orcones, melhor sentir frio do que morrer queimado em uma explosão.

Acordamos de manhã com o tempo virado, o céu estava completamente fechado e a primeira coisa que procurei foram os cachorros que dormiram do lado de fora e estavam afundados na neve. Surpresa! A uns trezentos metros um outro grupo tinha montado uma barraca para onde nós nos fomos depois. Eram franceses e iriam até ao pé do Aconcagua com a diferença que caminhavam de esquis especiais que tem o fundo recoberto de pele de foca, então para frente desliza e para trás não escorrega. Eles tinham um termômetro que naquela hora marcava dezesseis graus abaixo de zero. Ficamos juntos um tempo onde conversamos bastante embora até hoje não entenda como, o fato é que ficamos sabendo suas profissões e uma parte de suas aventuras. Um deles que trabalhava com eletricidade tipo uma Copel francesa me chamou muito a atenção por um detalhe, ele fumava sem tirar o cigarro da boca e explico o porquê, eu fumo, mas não fico com ele na boca, nunca quis pegar este hábito por decisão própria, fumando do jeito que fumo se eu o mantiver na boca vou amarelar mais ainda o amarelo e porque nunca gostei de ver a imagem que isto transmite. O problema lá é que quando se tira a luva gela muito rápido a mão então fica assim a situação, acende o cigarro sem a luva direita e depois a veste e tira a da mão esquerda e assim vai até terminar. Não era o caso dele até o momento do cigarro terminar e aí veio uma surpresa, eu juro para o Tiaraju que ele engoliu a guimba, no chão não estava e digo que nenhum amante da natureza cometeria este pecado e eles o eram com certeza, como ele não mexeu as mãos para nada fica aí o meu palpite. No meu caso eu apago e guardo no bolso as xepas.

Dezesseis abaixo de zero confirmado. Nada perto dos trinta graus abaixo de zero que a Iara e eu pegamos no El Tatio e ela precisava urinar, mas esta é outra história.

Eles prosseguiram e o Tiaraju e eu fomos passear explorando as redondezas. Na beira do rio Orcones embora que no alto do platô que estávamos o Tiaraju me explicava como se fazia para cruzar estas paredes extremamente inclinadas de pedras soltas, funciona assim, entra-se correndo nela e cada vez que o pé encosta e escorrega o outro já está iniciando a mesma coisa e a rapidez faz com que você não caia. Achar que ele ia se contentar com a explicação foi ilusão, sem mais sem menos ele se atirou no declive (Algo como setenta graus de inclinação) e mostrou que funcionava. Deu certo e pude agradecer minha boa sorte porque se não desse certo até hoje estaria recolhendo pedacinhos dele tal à altura do precipício. Com estas e outras eu quis registrar esta cena embora não queria que ele fizesse aquilo novamente, então pedi algo mais simples e perguntei se ele podia caminhar até a ponta de umas arestas que se projetavam fora do platô para eu o fazer uma foto o que ele aceitou e o fez com naturalidade embora aí exatamente acontecesse algo arrepiante quando ele escorregou e por um breve momento ficou no ar caindo e enterrando as mãos e os pés para se firmar o que obteve sucesso ufa! A foto abaixo mostra a aresta.

Foto abaixo - Nosso acampamento à distância, o ponto amarelo é a barraca e se encaminhando perto o Tiaraju, onde estou é o lado direito do lago para quem vem.

Assim passamos o dia e na aproximação da noite achei que o que eu queria já estava realizado e uma emoção diferente seria ficar só na barraca, mas esta idéia tinha a complexidade de no dia seguinte ter que desmontá-la. Então o Tiaraju ficaria e voltaria no dia seguinte e eu faria a volta de tarde sozinho o que também me trouxe um alto grau de satisfação pela bela sensação de solidão tão grata e que me faz um bem incrível. Extemporizei este pensamento ao Tiaraju e achei que ele sentiria o mesmo que eu embora não tenha dado a opção. No dia seguinte quando se encontramos a sensação que tive foi que deu certo para ele também, a solidão intencional na montanha ou no deserto realmente tem algo muito especial.

Iniciando o caminho de volta, a pastora decidiu por conta própria a quem acompanhar. Foto do Tiaraju a partir do acampamento.

Cheguei ao escurecer no hotel onde após o banho o Senhor Armando me serviu um belo jantar e as minhas custas um grande filé para a Pastora. Depois sentei com o dono do hotel onde conversamos enquanto tomávamos chocolate quente e aí fiquei sabendo das aventuras da nossa companheira Pastora. Incrível esta cachorra já tinha subido inúmeras vezes até o topo do Aconcagua acompanhando inúmeras expedições. A interação dela com os alpinistas são fantásticos e um exemplo disto ocorreu no dia seguinte quando eu pedi a ele que gostaria de uma foto junto com ela. Neste momento ela estava em canto do rol de entrada em um sono profundo e bastou ele dizer algo assim como – Fulana vá tirar uma fotografia que ela langorosamente foi à frente do hotel conosco e quando nos sentamos ela se deitou do meu lado e encostou a cabeça nas minhas pernas propiciando uma belíssima foto que no final acabou causando o maior dissabor da viagem.

Nesta manhã eu sozinho desci a beira do rio e fiquei passeando e curtindo as formações de gelo e quando voltei para cima já enxerguei o Tiaraju chegando onde nos abraçamos e deu para sentir que mesmo curta a aventura tinha sido recompensadora. Decidimos logo mais voltarmos para casa neste mesmo dia e feito os últimos tramites que incluem a foto com a Pastora pegamos o ônibus e descemos para Mendonza onde que por coincidência tinha um avião quase que imediato para Buenos Ayres e a noite já nós estávamos no aeroporto Ezeiza onde nosso vôo pela Varig aconteceria no dia seguinte. Montamos acampamento na capela do aeroporto. De manhã acordei mais cedo e fui escovar os dentes e quando eu voltei vi um padre entrando na capela e dando de cara com o Tiaraju ainda dormindo. O padre deu meio volta e saiu então acordei o Tiaraju e saímos de lá para evitar alguma confusão e fomos tomar café. Como o vôo da Varig ainda estava longe de acontecer surgiu à idéia que por fim trouxe uma mácula no que então teria sido uma viagem perfeita. Decidimos validar nossas passagens pelas Aerolíneas Argentina que tinha embarque imediato para São Paulo e assim o fizemos e já no anoitecer daquele dia estava deixando o Tiaraju em sua casa em Curitiba e rumando para a minha em São José dos Pinhais. O drama que ocorreu foi quando abri minha mochila e descobri que tinham furtado minha máquina fotográfica, barbeador e outras coisas que não me recordo. Não pelo valor do bem material e sim porque na máquina ainda estava o filme que continha a foto da Pastora comigo e esta perda foi irreparável.

Aconcagua visto e fotografado por nossa câmara a partir do acampamento com zoom de 120 mm. Para todos que quiserem reverenciar esta bela montanha ela fica do lado direito da estrada que leva ao Chile, passando a aduana da Argentina segue-se mais uns quilômetros e entra-se no Parque Nacional Aconcagua, no verão com mais certeza e no inverno às vezes é possível chegar de carro ou motor home bem dentro do parque e chegar bem perto desta mesma situação que a fotografia apresenta.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Lembranças do quartel.


Em 1971 fui selecionado pelo serviço militar obrigatório para servir em Brasília no BGP – Batalhão da Guarda Presidencial e em janeiro de 1972 me apresentei.

Uma longa viagem com o espírito aberto e um enorme problema de saída. Quando parti o meu grande amigo Naif que me acompanhou ao embarque realizado no quartel do Bacacheri fazendo uso de algo que ele é especialista (Ele tem muitas e por si só é uma das maiores histórias da minha vida) que é o uma maldade ardilosa. Na despedida com os ônibus já em movimento grita algo assim como - Aí Vanderléia – em menção aos meus cabelos que como aparecem nas fotos abaixo era bastante longo.



Em Ipanema na feira de artesanato conversando com a Connie, atrás o outro cabeleira era o Jacques seu marido. Ambos vieram dos Estados Unidos de motocicleta e ficamos amigos em Curitiba. Nesta ocasião que ocorreu um ano antes do quartel o Victor, o Naif e eu fomos visitá-los. Mais adiante o Victor que serviu no Rio de Janeiro acabou ajudando-os mais a se estabelecerem no Brasil.

Era uma grande cabeleira mesmo hehehe.
Imaginar o que isto fez da minha viagem é fácil para quem já foi jovem e sabe como a juventude pode ser maldosa. Pensando melhor até hoje vejo como uma característica humana o uso de mediocridades para poder infernizar seus semelhantes.

Mas se isto foi ruim também teve sua parte boa, criou uma casca que me fez procurar cuidar bem do número um.

O sufoco do apelido desapareceu logo, uma das primeiras coisas foi que o cabelo desapareceu e neste ínterim surgiram outros companheiros que por diferentes coisas ficaram alvos das chacotas dos deficientes mentais. Fui destacado para a companhia que faz a guarda presidencial o que significava um ano polindo botões e treinando ordem unida e tirando guarda de honra nos palácios. A foto abaixo mostra como era o uniforme:
O inicio da vida no quartel é torturante, chama-se a isto período básico que são três meses de reclusão onde tem que se aprender tudo sobre a vida militar desde toques de corneta a lavar sua própria farda. Um período administrável se não fosse um inconveniente, não como comida ruim e isto significava fome constante e, além disto, os poucos caraminguás que levei acabaram-se logo o que significou uma constante procura por alguém que fumasse para serrar um que depois seria transformado em cinco, duas tragadas e apagar duas tragadas e apagar ufa.
Uma curiosidade era o fato de eu na vida civil sempre usar coturno então na vida militar com todos aqueles deslocamentos e treinos de ordem unida meus pés permaneceram impecáveis porque continuei usando os meus que eram de oficial, agora as orelhas não escaparam e que me lembro acho que ninguém, aquilo que foi protegido anos do sol pelos cabelos fritaram de uma maneira impressionante.

Refeitório dos soldados. Eu sou o primeiro à esquerda.

Ainda constrito com companheiros. Eu sou o primeiro da direita.

O Batalhão visto de cima, o alojamento logo detrás da formação foi o meu primeiro, depois passei para a CCS – Companhia de Comandos e Serviços que fica a direita deste, mais adiante foi comum eu usar o alojamento do comandante ou então ficar em um quarto que aluguei no bairro Cruzeiro.

O Naif o amigo mencionado acima autor da malvadeza também tinha o lado bom que era a sua profunda facilidade em se adaptar e tirar o melhor proveito das situações. Ele servia na PE – Policia do Exército que tinha o quartel ao lado do meu. O Naif que fazia parte do contingente anterior (maio a maio) já era o antigão do quartel, ele fazia parte do grupo de motociclistas do exército que faziam aquelas apresentações de pirâmides em cima da moto e várias vezes pude vê-lo pilotando sua Harley Davidson por Brasília. Um dia ainda quando eu ainda era conscrito encontrei-o na divisa e conversamos com ele me dando dicas que foram fundamentais para um futuro feliz no exército, a mais importante delas foi o aviso que fariam um questionário perguntando a cada um suas habilidades e ele falou para eu colocar tudo como se soubesse fazer, o que eu queria realmente era também entrar para o pelotão de motos, mas isto no meu quartel era restrito para a graduação de sargento para cima e não houve maneira de contornar independente das amizades que fiz com este pessoal. O fato é que aconteceu o que ele tinha previsto e vieram as perguntas – Sabe dirigir caminhão? Sim embora nunca tivesse dirigido, sabe sei, sabe sei, PABX minha profissão natural, rádio sei de tudo e assim foi. Obviamente um gênio como eu não poderia ficar misturado com os outros e eis que fui chamado para uma entrevista com o subcomandante do batalhão um Tenente Coronel simpaticíssimo que infelizmente não me recordo o nome e junto também estava um major da administração que também não me recordo o nome, o objetivo era a escolha do soldado que iria substituir a ordenança do comandante e nas inúmeras perguntas a todas respondi positivamente. Fui nomeado.

Comandante Coronel Waldemar de Araújo Carvalho

Os dias de conscrito perdido na multidão se acabaram, no mesmo dia da nomeação já fui encaminhado ao alfaiate do exército onde ele confeccionou minhas fardas sobre medida e ganhei uma braçadeira cujas siglas significavam Ordem ao Comando. Daí em diante eu comecei receber continência por onde passava não que isto fosse lei e sim por desconhecimento da maioria do significado da braçadeira. De qualquer maneira o tratamento por parte dos oficiais mudou.

Quanto à comida que era o meu maior problema solucionei-o negociando na cantina dos oficiais a limpeza da cozinha em troca de comida, como trabalho não assusta achei ótima a troca. Se porventura o comandante precisa-se de mim logo após o almoço eles entendiam e tudo ficava bem.

Nos últimos testes para se tornar soldado aconteceu algo engraçado, eu não acertei nenhum tiro no alvo, na verdade eu quase nem enxergava o alvo embora achasse que ninguém enxergava também. Lembro-me que o responsável comentou que afinal não era tão importante porque as minhas funções já eram burocráticas e deu um ok no meu exame. O fato é que eu precisava de óculos e isto é uma coisa que você só sabe se fizer um exame de vista senão imagina-se que todos enxergam iguais.

Minha rotina logo se moldou, o Comandante Waldemar a quem eu servia era um militar de carreira e me dava pouco trabalho, pois nunca usava seu alojamento e que eu me lembro a coisa mais complicada era apontar seus lápis, pois ele não gostava de ponta fina então eu apontava e depois a desgastava rabiscando. Uma vez ele tentou uma invenção me chamando para tirar um risco da parede, deixei para ele uma parede para ser pintada e ele nunca mais me chamou para coisas deste gênero. De manhã minha função era ligar o rádio da rede dos comandantes e de tarde desligá-lo. Durante o resto do dia atendia telefones e comecei a namorar via fone a Marinalva que já fazia isto com a ordenança anterior a mim. Acabei indo conhecê-la no apartamento dela que ficava na asa sul, ele era filha de um tenente e muito mais que o amor ficou uma bela amizade e ótimos momentos de convivência.

Com o fim do período restrito comecei a sair frequentemente com o Naif que também tinha formado amizades fora, como eu tinha a minha moto tudo ficou mais fácil e rodamos muito em Brasília. Um caso sui generis fomos nós dois passando por um restaurante francês que estava acolhendo uma festa de casamento, o Naif sem pensar duas vezes me levou para dentro e nós com as honras de convidado participamos do jantar e digo que até hoje não comi uma lagosta tão boa como a que foi nos servida lá.



Quem estava batendo as fotos era o Naif.
Em maio veio à baixa do Naif e eu comecei sozinho a circular por Brasília que na época nada mais era do que um fabuloso circuito de velocidade com suas longas retas e curvas harmoniosas.

Uma particularidade deste período:
Ainda no primeiro mês escrevi uma carta para a minha família contando as novidades e também falei da dificuldade da falta de dinheiro, eis que minha mãe me envia uma carta com lindas notas de cruzeiros só que com um problema elas não estavam lá tinham sido roubados no correio e só havia menção escrita que elas estavam juntas com a carta. A frustração foi imensa ao ponto de eu conseguir uma licença especial para me ausentar do quartel e fui até os correios onde aprontei o maior escarcéu chamando tudo mundo de ladrão para cima. Ficou só nisto também porque ninguém me devolveu nada. Já no mês seguinte recebi um pacotão contendo comida que foi uma salvação já que minhas energias estavam se esgotando por falta de alimentação. E junto bem camuflado um dinheiro que logo doei para a Souza Cruz em troca de lindos maços de Mistura Fina.

Caminhando já para o meio do meu período de alistamento eis que chega para me visitar o Victor que também cumpria o seu serviço militar só que no Rio de Janeiro. Mesmo que o Naif e eu tenhamos tido sucesso em aproveitar as possibilidades nem de perto se comparava ao que o Victor atingiu neste curto período, ele estava servindo na policia secreta do exército e seu acesso era livre a qualquer ambiente, mais adiante no tempo o Naif e eu estivemos juntos com ele no Rio e não havia nada que impedisse a entrada dele nas melhores casas noturnas ou como mencionei qualquer lugar que fosse do interesse dele adentrar. E mais hehehe, não precisava cortar o cabelo. Imediatamente consegui alojamento para ele no quartel e já peguei uma licença extraordinária para sair.
Passeamos um bocado em Brasília e como era quinta-feira (Nas quintas-feiras eu ia até o Palácio do Planalto onde na parte debaixo tem um refeitório e nelas o prato era dobradinha, uma das melhores que já comi e em uma escala só perde para a dobradinha espanhola de Punta Arenas e para a dobradinha que uma vez a minha sogra fez). Depois passeando pelo centro de Brasília fomos até o supermercado Jumbo sendo que aí saí dobrando a moto nas curvas do estacionamento até o Victor reclamar que eu estava lixando o seu but e ergueu a perna tirando o equilíbrio da moto e nos fazendo cair, ele por cima e eu por baixo fazendo um Q. Suco do osso da minha perna. Na hora nem senti e quando me levantei a perna se dobrou sem a sustentação. O Victor providenciou o socorro e fui para o hospital de Brasília onde me trataram e depois me transferiram para o hospital militar.
No dia seguinte aconteceu uma das coisas mais interessantes no quesito prova de amizade, não que o Victor ou eu necessitasse disto para comprovar a lealdade da nossa amizade, mas aconteceu e o resultado foi nada menos que o esperado mesmo que no limite. O fato é que no dia seguinte quando ele foi me visitar na enfermaria dos quebrados eu já com a perna no esticador e com dores terríveis, bem não era tanto assim desde que eu não respirasse, pensasse ou piscasse e aí veio uma vontade imensa de evacuar, lembre-se que eu estava comendo bem e no Planalto tínhamos comido muito então não tinha como protelar. Passei a situação a ele e imediatamente ele providenciou uma comadre e com muito cuidado ajeitou ela na minha bunda e eu mandei o esgoto se abrir. Começou a sair e não parava, encheu a comadre e se esparramou pela cama, uma imundícia com um cheiro absurdamente horrível e não estou aumentando em nada basta dizer que ao meu lado tinha um acidentado de Goiânia chamado Leandro que tinha gesso no corpo inteiro (Duas pernas, bacia, um braço e mais algumas coisas, acidente de lambreta) e mesmo assim no horror a situação ele conseguiu sair do quarto junto com outros cinco quebrados que faziam parte desta enfermaria.

Nenhuma enfermeira socorreu, acredito até que elas tenham abandonado o hospital hehehe, mas o Victor não se abalou, sem socorro externo ele conseguiu com um atendente a reposição dos lençóis e material para me lavar e o fez Algumas horas depois eu estava completamente limpo em uma cama completamente limpa e isto com movimentos cirúrgicos, pois bastava olhar para a minha perna que a dor era terrível. Aí os quebrados puderam voltar para as suas camas.

Depois o Victor providenciou a guarda da moto que não teve muitos danos e retornou ao Rio e neste ínterim eu já tinha decidido comer o mínimo possível até poder ir ao banheiro o que aconteceu trinta dias depois aproximadamente. Esta ida também se revestiu de drama, foi o primeiro movimento efetivo após o acidente e não era mais possível protelar, arduamente consegui chegar à privada. Minhas fezes tinham se transformado em uma pedra áspera e muito grande e entalou na saída do ânus, lembrando agora é uma comédia, mas na hora a coisa virou um filme de horror, levei muito tempo tentando quebrar ela com os dedos e forçando o máximo possível, depois um longo, muito longo tempo e graças ao volume de sangue que acabou a lubrificando consegui tira-la. Um ano depois da baixa todas as vezes que eu evacuava ainda o fazia com sangue.

A partir deste momento eu comecei a me movimentar mais frequentemente e o hospital ficou muito divertido, a Marinalva e seu pai em uma das visitas me trouxe uma mala de revistas e livros, toda manhã e toda tarde eu recebia minha garrafa térmica de café e peguei uma habilidade incrível no uso da cadeira de rodas. E isto que uma boa parte do tempo eu podia me dedicar a acompanhar a rotina das enfermeiras, eu olhar o balanço daqueles corpos e as frestas dos seus uniformes já eram uma boa fonte de inspiração para se continuar vivo.

Por volta do quarto-mês no hospital o Victor veio me visitar de novo.

É notável o quanto se pode ser rápido em uma cadeira de rodas treinando todo dia.
O dominó era o jogo que dominava as enfermarias até a chegada de uns pára-quedistas do Rio de Janeiro que estavam lutando no Araguaia contra os comunistas, eles jogavam no baralho o Só Copas que é uma variante do Mal-Mal, este jogo ficou sendo uma febre até a minha saída. Como curiosidade nenhum deles tinha visto nenhum comunista e os internamentos eram uma boa parte por descuido dos outros soldados no manejo das armas ou então coisas diversas como pisar em arraias.

Uns cinco meses de internamento e chegou o dia da retirada final do gesso ufa. A primeira sessão de fisioterapia foi neste hospital mesmo e o fisioterapeuta era um imbecil chamado Chacon, o energúmeno depois de aquecer minha perna no forno jogou talco sobre ela e desenhou uns sinais cabalísticos comigo de bruços só olhando de viés. Acreditam que este umbandista lazarento firmou as suas mãos e dobrou a minha perna em um golpe! O estalo e a dor foram enormes e hasta la vista meu ligamento cruzado que até hoje continua rompido. O fato é que até ele se assustou da cagada que fez e de qualquer maneira foi à última em cima de mim, o resto da fisioterapia fiz no Hospital Sarah Kubitschek que era fantasticamente preparado embora o dano que o idiota já tinha feito era irreparável.

Voltei ao quartel e a minha companhia, o meu cargo de ordenança já estava preenchido então isto me possibilitou um relacionamento mais estreito com os companheiros que então já eram os antigões porque tanto a PE como a Cavalaria tinham renovado os seus contingentes em maio e os recrutas do BGP (já soldados) era o grupo mais antigo. Todas as ansiedades do grupo já estavam resolvidas então à convivência era muito agradável e não passava um dia que nós não se reuníssemos para jogar pôquer matando uns baseados. E graças a memórias do passado com freqüência me deixavam comer no refeitório dos oficiais ou então no dos sargentos e subtenentes e com o soldo acumulado no período do hospital o uso da cantina era normal.

E assim prosseguia eu capengando pelo quartel até um dia o Comandante da Companhia me juntar e perguntar por que eu não estava fazendo as rotinas de marcha, expliquei a ele o problema e por uma sorte incrível ele fez que entendesse nada e me obrigou a cumpri-las. O que este Capitão fez por mim fabuloso, tendo que marchar três vezes por dia além de cumprir a rotina de guarda acabou me fazendo parar de mancar e aprender a usar a perna da maneira que ficou. Um tempo depois ele ficou sem ordenança e eu assumi com prazer. Como já não tinha mais interesse em sair e o Victor tinha levado a moto para o Rio (Na época não imaginava o que me esperava pela frente) comecei a vender a guarda, como muitos soldados estavam fazendo aquilo que eu fiz no começo eles queriam sair então eu os substituía por um pagamento. Tirar a guarda era algo muito agradável para mim e o fazia tão freqüente que acumulei uma grana muito boa tanto que então só fumava Minister.

Se aproximando o dia da baixa ao contrário que podia parecer não havia euforia, eu mesmo achava aquela vida agradável e para continuar tinha até sondado as possibilidades de ser transferido para o EMFA – Estado Maior das Forças Armadas, mas sem muito esforço não consegui. Nesta fase o comando estava entregando um diploma de honra para os soldados que tinham se destacado e eu recebi o meu. Pouco antes do embarque nos ônibus que nos trariam o mostrei para o Damião que era o tipo de companheiro e soldado que eu gostaria de ter ao meu lado em uma guerra, ele foi neste seu tempo de quartel um soldado exemplar em todos os sentidos, mas por algum raio da burocracia ele não recebeu e como eu soube só naquele instante não pude fazer nada para que mudasse o fato. Foi à nódoa que entristeceu a viagem de volta.


Naif Saleh Neto à esquerda, Victor Emmanuel Mendes e Silva no meio e eu. Uma história de milhões de páginas.

segunda-feira, 12 de março de 2007

F1 1999 – No paddock de Interlagos.

Para um apaixonado pela Fórmula 1 de tão longa data a não presença em um Grande Prêmio oficial pode parecer no mínimo esquisita, mas a cobertura na televisão, revistas, internet e o uso intensivo de simuladores me deixaram bastante atualizados e nunca senti a necessidade de estar fisicamente presente e até pelo contrário me arrepia a idéia de dividir uma arquibancada com tantas pessoas. Até um dia em 1999...

Meu amigo Chico Maia, piloto de reconhecidas qualidades, várias vezes campeão no automobilismo e muito ligado ao Joanir Zonta e seu filho Ricardo perguntou-me se interessava ir a Interlagos ver a segunda corrida do Ricardo na F1 e a primeira no Brasil. O Ricardo estreava neste ano pela equipe BAR tendo como companheiro o Jacques Villeneuve e na Austrália seu começo foi relativamente promissor porque mesmo tendo uma má qualificação em corrida chegou a andar na zona de pontuação até quebrar. Aceitei e fomos.

Quinta-feira – 08/04/1999
Viagem tranqüila a São Paulo a bordo de um Golf, como curiosidade desta viagem fomos pegos em velocidade acima da permitida e quando eu conversava com o guarda o Chico deu-lhe uma carteirada de fiscal federal e disse que estávamos a serviço desmantelando uma gangue que roubava palmitos na Barra do Turvo, com isto reduziu a multa para direção perigosa.

Chegando a São Paulo fomos diretos ao hotel Meliá nos encontramos com o Joanir para pegar as credenciais e aí começou a série de coisas maravilhosas que me levam a recordar e a escrever para poder viver várias vezes as enormes emoções vividas neste GP. Já no hall de entrada encontramos o Jean Alesi, muito gentil retribuiu nosso cumprimento e no balcão ficamos lado a lado com o Jackie Steward. Só ele e por este momento de estar ao seu lado já justificaria a viagem, igualmente gentil soube entender que meus olhares não eram de bichisse e sim de uma admiração por estar lado a lado de um ícone desta categoria que eu tanto admiro. Os atendentes do hotel avisaram ao Joanir que estávamos lá e ele veio nos encontrar.

Subimos ao seu apartamento aonde logo mais o Ricardo veio para conversar e era a primeira vez que eu o via. Bah chê só olhando um piloto de F1 para entender, transpirando energia em um corpo triangular é uma figura que impressionou. A conversa foi amena e era visível a tensão e me adianto a esta situação, todos os pilotos que encontramos estavam assim e foi notável a diferença que ocorreu depois que eles foram para a pista no primeiro treino, foi como uma barreira se quebrasse e a maioria deles mudou radicalmente.

Fomos jantar juntos e a grande surpresa, ao nosso lado senta-se o Mika Häkkinen e sua esposa Erja que para deixar a ocasião perturbada ficou dando uns sorrisos extras ao amigo Chico o que provavelmente deve ter incomodado o Mika mesmo que ele não deixou transparecer. O Mika é uma exceção em se tratando de um piloto de F1, a enorme quantidade de fraturas que este caboclo já teve em acidentes monstruosos o deixou esquisito de se olhar impressão esta que mudou completamente quando o encontramos no dia seguinte já de macacão onde aí sim ele fica com a imagem de um atleta de alto desempenho.

Sexta-Feira – 09/04/1999
Fomos cedo para o autódromo onde fizemos o reconhecimento do local e a nossa instalação no paddock da equipe. Em breve o Joanir juntou-se a nós e tivemos as primeiras experiências do que é ser vip neste ambiente, paparicados assume uma nova maneira de interpretação desta palavra, basta dizer que eu tinha dificuldades em escolher qual marca de charuto iria fumar. Vimos e fomos vistos por muitos, mas era sexta-feira e todos estavam se ambientando e havia um nervoso generalizado para os treinos que logo iriam começar. Nossa credencial dava direito a visitar os boxes em qualquer horário, mas o fato é que este ambiente é de trabalho intenso e a nossa própria equipe reserva um espaço de menos de um metro quadrado em canto e de lá não se pode se mexer. Não deixou de ser curioso de ver que o Jacques Villeneuve não tirou o capacete em nenhum momento daqueles que eu o vi inclusive ao banheiro ele foi de capacete.
Para nossa infelicidade o Ricardo Zonta bateu forte na curva ao final da descida do lago pondo fim a nossa torcida especifica, os danos eu mencionarei mais adiante. Assim sendo o resto do dia ficou nebuloso até literalmente, pois choveu à tarde. Demos carona para o Joanir e de presente ele deixou um guarda-chuva da Bridgestone. Jantamos e cama cedo.

Sábado – 10/04/1999Novamente bem cedo para o autódromo e ainda bem que bem cedo, o Joãozinho deu uma errada e quando estávamos chegando ao Rio de Janeiro corrigimos a rota. Deixamos à bolsa no paddock e fomos circular até chegarmos à entrada de Interlagos para quem vem de carro ou helicóptero, estando aí o Chico perguntou se eu estava com a máquina fotográfica e eu comentei que não e isto não era importante, importante era a fotografia que teríamos em nossas cabeças. O Chico não se conformou e voluntariamente foi até o paddock buscá-la. Isto não é brincadeira, o caminho era super longo em subida além das escadarias e neste gesto aumentou meu entendimento do quanto à amizade dele me é preciosa.Lá embaixo estávamos em poucos e os outros eram cinegrafistas que filmavam as entradas dos famosos e aí uma coisa bastante engraçada aconteceu, entre eles havia um que dizia - filme este - ou - aquele é o fulano - in english of course. Aí o pessoal corria e mandava bala. Estávamos íntimos já e trocávamos risadas embora eu me pergunte como se o inglês do Chico e o meu juntos não pesava mais que meia grama, sei que uma hora este caboclo apontou um cara e foi àquela correria para filmar e daí sim a coisa ficou muito engraçada porque o mencionado não era ninguém especial e sim um conhecido do apontador. Mais um tempo e eu desci até a entrada que ficava a uns cem metros de onde estavam este pessoal e eis que acontece algo fantástico, eu sozinho lá na frente e eis que entra o Michael Schumacher também sozinho, pus todo meu inglês para funcionar e o cumprimentei usando-o integralmente “Hi” de resto nem português sairia pela minha boca tal a intensidade do momento. O fato é que ele foi muito agradável e não ligou que eu continuasse com o braço na suas costas e assim subimos em direção a entrada dos boxes. Quando o pessoal das câmaras o viram foi um frenesi e todos correram para cima dele e para acompanhar aquele clima descontraído ele se jogou para trás e se amparou no meu braço. E logo em seguida este meu grande amigo Chico Maia armado com a nossa câmara bateu a foto abaixo:



As emoções estavam sobrando, logo em seguida começaram a chegar mais pilotos e com exceção do David Coulthard e o Eddie Irvine que foram muito arrogantes o restante foi maravilhoso, o Rubens Barrichello pode ser um falador confuso nas entrevistas, mas pessoalmente é de uma gentileza extrema e de todos quem leva o troféu simpatia é o Alessandro Zanardi mesmo que o Michael seja também um sério concorrente só que neste caso é mais fácil ter sorrisos a postos com um bicampeonato na bagagem hehehe.



Voltamos ao paddock para acompanhar a qualificação e continuarmos a receber toda a atenção tanto que até hoje quando espirro ainda fica saindo caviar do meu nariz. O Mika foi pole.

Uma fofoca do Gazetinha aqui, meia hora antes da qualificação começar eu sentei sozinho em uma escadaria que leva ao paddock e fiquei assistindo ao movimento na rua detrás dos boxes, eis que o Rubens Barrichello está com a Silvana e mais um grupo de amigos. Só que ele estava dando um malho na menina que depois seria a sua esposa. Incrível que com todo aglomerado ele conseguiu ficar excitado ao ponto de estufar o macacão, não faz meu gosto este exibicionismo explicito, porém como curiosidade é interessante e mostra que ele devia estar bem relaxado a até porque ele conseguiu um brilhante terceiro posto na qualificação.

Domingo – 11/04/1999
Novamente muito cedo para o autódromo e aí impressionou a quantidade de gente na fila, não era o nosso caso e entramos facilmente.

Agora todo o paddock estava tomado embora isto não diminuísse nem um pouco a atenção que prestavam a nós. Uma curiosidade é que eu devia estar sendo confundido com alguém, pois estavam ficando comum as pessoas me cumprimentarem sendo que o máximo fui eu em determinado momento entrar no espaço da Jordan quando o Eddie Jordan estava dando uma entrevista para a televisão junto com os seus pilotos o Heinz-Harald Frentzen e o Damon Hill, me encostei à parede para assistir a eles quando o Eddie olhou para mim e me cumprimentou acenando e logo em seguida o Frentzen e o Damon também o fizeram para mim sorrindo e com gestos largos.
E tem mais, que tal o Nelson Piquet perguntando se a sua esposa podia ficar conosco enquanto ele tinha que resolver alguma coisa em outro lugar, obviamente nós ficamos felizes em atendê-lo e infelizmente não acho a foto que iria ilustrar este acontecimento então só digo que ela é uma mulher belíssima e bastante agradável.

Terminada a corrida (Mika venceu) o Chico e eu fomos para o hospital São Luis onde o Ricardo estava internado onde conversamos bastante e conferimos à gravidade do acidente. O Zonta teve seu pé perfurado por algum pedaço do carro e fraturou alguns ossos do pé que o deixou fora de várias corridas. Do hospital voltamos a Curitiba e só me recordo acordando no Pinheirinho porque o Chico veio dirigindo.

Para dar uma cor a este diário vai uma fofoca sobre a Viviane Senna, não vi pessoalmente e sim esta situação apareceu depois. A moça que antes era irmã do Ayrton e agora mãe do Bruno Senna (Vocês queriam saber qual a criança que a Fundação Ayrton Senna ajuda, pois é está aí é o próprio filho com sua carreira automobilística que custa alguns milhões de dólares hehehe) estava meio galinha no autódromo chegando a quem desse mole, provavelmente a partir de um determinado nível de poder o que por engano eu poderia ser incluído hehehe e uma das vitimas foi o Jackie Steward e se ficarem incrédulos olhem a foto abaixo:

Léozinho boca de caçapa ou Gazetinha fala e mostra hehehe, se o Jackie baixasse o olhar ia ver o umbigo da dona.

domingo, 11 de março de 2007

Viagem ao Ushuaia – Diário

19/03/2006 – Domingo
Saída de São José dos Pinhais a seis horas da manhã. Viagem direta a Puerto Iguazú, tramite de fronteira e câmbio levou aproximadamente uma hora – É necessária vistoria técnica do veículo que não tínhamos, eles aceitaram a última nota fiscal de revisão. Seguimos adiante de Puerto Iguazú em direção a cidade de Pousadas. Em poucos quilômetros após Puerto Iguazú tem um posto fiscal e logo em seguida um camping com duas placas enormes o anunciando. O proprietário chama-se Petruk e o filho Sérgio. O custo foi de dez pesos.
Suerte 1 x 0 Suerte mala – A atenção dispensada na fronteira e no posto fiscal excelentes.

20/03/2006 - Segunda-feira – Lunes
Viagem por um asfalto tapete (Pedágio muito barato) até Corrientes, na rotatória nós demos uma erradinha básica, o correto é seguir a placa Puente à direita. Cruzamos o rio Paraná por uma bela ponte em direção a Resistência onde paramos no Camping Municipal Parque do Arvoredo. Endereço do camping: Passando a ponte do rio Paraná e contando a partir do pedágio na segunda rotatória seguir mais uns cem metros e entrar à direita no sinaleiro fazendo o retorno (Spin) e virar a primeira à direita seguindo em frente sem engano. O camping fica do lado esquerdo e nos custaram sete pesos. Alguns motor-home e um belo Ducatto que pelos adesivos já tinha quase rodado o mundo inteiro.
Suerte 2 x 0 Suerte mala – Novamente a atenção das pessoas nas informações e no atendimento foram excelentes. Uma gostosa sensação de bem-vindos.

21/03/2006 - Terça-feira – MartesResistência / Pampa Del Inferno / Monte Quemado.
Para justificar o nome uma série de trechos ruins na estrada, como não há cercas um enorme perigo de animais soltos na pista, mas estes dissabores fazem à cor do chaco argentino junto com um calor de mais de quarenta graus. Em Porto Quemado paramos erroneamente em um eletricista na frente de um posto de gasolina e borracharia, fomos muito bem atendidos com fornecimento de energia elétrica, mas quando fomos embora vimos na frente ótimas oportunidades de paradas em melhores condições.
Suerte 3 x 0 Suerte mala – Não atropelamos nenhum animal, não pegamos nenhum buraco e o ar condicionado funcionou bem.

22/03/2006 - Quarta-feira – MiércolesA dureza do chaco é amplamente recompensada com as magníficas rutas após ele, paisagens deslumbrantes até a cidade de Tilcara na província do Jujuy já na cordilheira dos Andes e que fica a 22 km após a entrada para o Paso de Jama que era o nosso caminho idealizado. Cidade ótima com excelente camping (El Jardim) e com excelentes passeios para cidades vizinhas.
 
Suerte 4 x 0 Suerte mala – Como somos bem atendidos, quanta gentileza. Na cidade tem um posto de combustível YPF e isto já é um sinônimo de amparo total em todos os sentidos, a Argentina fica muito menor sem os maravilhosos guias da YPF.

23/03/2006 – Quinta-feira – JuevesFicamos na cidade, andamos muito, fizemos lavanderia, comemos espetacularmente bem (Restaurante ao lado do posto YPF).
Pucara de Tilcara - Jujuy - Argentina

24/03/2006 – Sexta-feira – ViernesTravessia dos Andes para o Chile pelo Paso de Jama – altura máxima 4 860 metros.
Saímos próximo às cinco horas da manhã e vimos o alvorecer já na estrada do Paso.
 
Muito, mais muito mais fantástico do que as informações que tínhamos recebido sobre este trajeto. Él debe ver para tener la fe. Sobe-se, sobe-se e sobe-se. Depois mais ou menos se percorre 400 km na altura de 4 000 metros, salinas gigantes, vales e montanhas em escalas incomparáveis. Pontas de montanhas com neve ao nível dos olhos.
Aviso para os novos viajantes:
Tem um posto de combustível no caminho, abasteça.
O ar rarefeito irá pegar firme no motor, boa parte do tempo é primeira e segunda marcha, nenhum problema maior, apenas o fato.
Não levamos, mas em Tilcara recebemos uma sugestão de carregar um oxigênio portátil caso viéssemos a sentir algum mal das alturas. Não tivemos problema, mas a sugestão deve ser levada a sério, confirmamos alguns casos disto ter acontecido. Na fronteira Argentina/Chile eles tem estrutura para este atendimento.
 
 
FUNDAMENTAL: Quando recebi a informação do Dr. Carlos (O desembargador que vive no motor-home) que este Paso estava asfaltado ele também mencionou que na descida tinha ficado sem freio e eu o subestimei pensando em uma má manutenção. Pois quando estávamos já a quatro mil e oitocentos metros de altura (A fronteira com a Bolívia fica a quatro quilômetros) não percebemos que a descida iria logo começar, de repente não precisava mais da primeira e nem da segunda-marcha e pus a terceira enquanto se descortinava a imagem grandiosa do deserto de Atacama a mais de 2 600 metros abaixo, bastou apenas um toque nos freios para descobrir que eles perderam a função enquanto um cheiro de queimado intenso invadiu a cabine. Até hoje fico na dúvida se o ar rarefeito me deixou burro ou se a falta deste ar aliado a enorme inclinação (4 600 metros a aproximadamente 2 000 metros em 42 quilômetros) somado ao peso do veiculo que estava no seu limite foi o responsável por esta perda tão rápida do funcionamento dos freios. O fato é que consegui reduzir para a primeira marcha, afinal uma estrela me guia no capô e bombando o freio conseguimos parar exatamente em uma leve curva que tem um cemitério a sua direita. Pois é, o cemitério é dos motoristas com menos sorte e a decoração é feita com os pedaços de caminhão que eles dirigiam.



A aduana do Chile fica em San Pedro do Atacama que chegamos ao fim da tarde. Muito atenciosos embora tenha sido a mais demorada. A revista pode ser bastante rigorosa. Procuramos um camping na cidade que foi fácil de encontrar e aproveitamos o resto do dia para fazer o câmbio e procurar o endereço de uma cidade que tivesse uma concessionária Mercedes para checar os freios, agendamos por telefone e fomos passear. Já conhecemos de outras viagens este lugar então desta vez ele seria só passagem.
Suerte 5 x 0 Suerte mala – A seguradora do nosso amigo Jorge Bazacas também agradece. Mesmo tirando este pequeno inconveniente o resto foi tão grandioso que apenas um ponto de sorte não reflete a verdade. Se todo o resto da viagem se tornasse miserável o Paso compensaria.

25/03/2006 – Sábado – Sábado
Saímos muito cedo em direção a Calama que é próxima ao oceano, então foi uma longa viagem em descida com os freios em total suspeição embora em pequenos testes ele tenha voltado a se mostrar confiável. A concessionária Mercedes em Calama foi excepcional no atendimento e apenas detectaram as pastilhas queimadas, as lixaram e sangraram o burrinho, do freio e não eu. Uma manhã gostosa em que visitei os caminhões americanos a venda (Maravilhosos e muito poderosos) e conversei um monte com vários motoristas. Eles (concessionária) também estavam fazendo uma revisão em um motor-home de uns belgas, por sinal gigantesco e feito para aventuras muitos radicais. Voltamos à estrada e fomos dormir em um posto Copeg já em Antofagasta.
Suerte 6 x 0 Suerte mala – Com tanta gente polindo a estrela não é a toa que ela brilhe.

26/03/2006 - Domingo – DomingoViagem tranqüila nos contornos do oceano Pacífico onde nós paramos para almoçar em Caldera. Uma volta pela beira da praia onde assistimos a uma recolhida de peixes e depois fomos comê-los no restaurante do pescador. Muito atenciosos eles acharam que nós podíamos comer o equivalente ao nosso peso. Fomos dormir na cidade de Vallenar em um posto Copeg.
Suerte 7 x 0 Suerte mala

27/03/2006 – Segunda-feira – Lunes
Continuamos descendo o Chile tranquilamente que estava só nos servindo de passagem desta vez, passamos Santiago e curiosamente observei que não havia nenhuma placa que indicasse a Argentina mesmo que não iríamos fazer o Paso nos Libertadores e só mais embaixo em Osorno. Próximo a Santiago tínhamos a opção litoral ou túnel, como sempre fizemos litoral optamos túnel e... My god que túnel estreito e longuíssimo. Passamos Santiago e fizemos o pernoite próximo a San Fernando em um posto Copeg que nos cedeu luz e água. A Iara aproveitou para dar uma geral na limpeza e eu a ajudei bastante em pensamento enquanto tomava cappucinos no excelente restaurante do posto. Jantamos lá com excelente vinho.
Suerte 8 x 0 Suerte mala

28/03/2006 – Terça-feira – Martes
Estrada o tempo todo e pousada próximo à cidade de Temuco. Na troca de idéias uma coisa surpreendente, tanto a Iara como eu estávamos felizes de voltar para a Argentina. Adoramos o Chile assim como a Argentina em todas as viagens anteriores só que desta vez a Argentina tinha tomado conta, difícil explicar a sensação mesmo ela estando tão presente.
Suerte 9 x 0 Suerte mala

29/03/2006 – Quarta-feira – Miércoles
Passagem pelos Andes por Osorno. Estrada maravilhosa com destino a Bariloche. No último posto Copeg antes da fronteira nós deixamos todos os pesos chilenos que é um amontoado de zeros em troca do combustível. A gorjeta foi boa.
 
Bariloche é a cidade que eu digo para as pessoas - Se você tem três dias para algo diferente, esta é a cidade. Maravilhosa e muito preparada para o turista. Bom, desta vez de cara uma frustração. Fomos direto procurar o camping El Yéti cuja propaganda era superior a todos os outros, argh era uma fraude e nem estava funcionando. E, além disto, ficava em um escarpado com uma péssima estrada. Descemos e pedimos informação que nos levou no quilometro 13,5 da rodovia Bariloche / Llao Llao ao camping Petúnia e aí sim, baita excelência com um pessoal muito amável. Motor-home de outras nações também estavam estacionados, quase todos com adesivos de grande parte do mundo colados.
Suerte 10 x 0 Suerte mala

30/03/2006 – Quinta-feira – Jueves
Bariloche é adorável, ótimas lojas, cafés e em breve uma enorme igreja Universal. Nosso guia foi um rapaz chamado Aléxis alexisdj3@hotmail.com muito atencioso e com seu táxi soube fazer render o máximo o nosso turismo e as nossas necessidades e impressionante como o dia deu certo. Um fato inesperado foi quando eu fui ajustar os óculos e por acidente o ótico quebrou o suporte, impressionante o nível de responsabilidade que ele assumiu, enquanto tomávamos café ele os consertou. Aproveitamos para comprar umas roupas especiais de frio e depois fomos almoçar no alto do Cerro Otto em um restaurante giratório em que se chega de teleférico. Almoço de nível internacional. Depois vimos neste mesmo conjunto uma exposição de réplicas em tamanho original de esculturas célebres como La Pietate, David e Moysés, além de diversas gravuras. Também aí se tem uma visão do Cerro Tronador, um pico de difícil escalada que pode ser conferida pelo telescópio a disposição.
 
Hoje também conversando a Iara e nós descobrimos o porquê estávamos felizes em deixar o Chile, não exatamente o porquê deste sentimento, mas ao estar aqui na Argentina sabemos com clareza porque estamos felizes, a afabilidade e o profissionalismo dos argentinos são anormais para os nossos padrões embora bastante naturais para eles. A senhora da padaria com um intenso prazer em servir, os proprietários do camping atendendo nossas necessidades, a moça da lavanderia, o pessoal do supermercado, etc. O camping Petúnia mesmo com todos estes serviços anexos é isolado e tem uma praia com deck em um lago de águas cristalinas.
Os cachorros é uma peculiaridade em toda a cidade (Cachorros grandes) e no camping também. Inspiram segurança e sempre temos algum deles por perto, curiosamente sempre só um nos acompanhava de perto.
Foto de decoração, não era este que nos acompanhava.
 
Suerte 11 x 0 Suerte mala

31/03/2006 – Sexta-feira – ViernesSaímos de bariloche com alerta de greve na entrega de combustível aos postos. Viagem maravilhosa até El Bolson e Esquel, uma das estradas mais bonitas que já conhecemos. A greve era uma realidade e só conseguimos abastecer dentro da cidade de Esquel. Prosseguimos a viagem vendo o anoitecer na estrada e prosseguindo até Sarmiento onde paramos em um posto da ACA-YPF.
Suerte 12 x 0 Suerte mala

01/04/2006 – Sábado – SábadoChegamos a Comodoro Rivadavia pela manhã e procurei um concessionário para verificar o nível de óleo do freio que eu achei alto e estava curiosamente o do motor também o que me faz pensar na influência das latitudes na densidade dos líquidos, perguntei ao Dr. Freud o que ele achava e a resposta foi que a mãe era culpada. Atendimento excelente! Esta estrela é fabulosa.
Terminado o serviço passamos pelo autódromo e por uma feliz coincidência era dia de corrida da TC2000. Para não variar como quase tudo na Argentina um autódromo para motor-home e a gentileza dos argentinos sobrando. Para um exemplo: Para ir a x lugar eu tinha que passar por baixo de um túnel, pois o trafego foi interrompido e uma pessoa foi na frente para ver se o teto passava, não passou e tive que dar ré, nenhuma reclamação. Daí me indicou outro caminho e no intervalo dos treinos pude passar para o outro lado onde tinha mais 10 432 motor-homes. Dormimos no autódromo.
Suerte 13 x 0 Suerte mala

02/04/2006 – Domingo – DomingoÓtimas corridas de Megane, Fórmula Renault e TC 2000. A última corrida seria a tarde e decidimos seguir viagem. Fomos dormir em Puerto San Julian, lugar lindo este porto e só ele mereceria a nossa permanência. Mas tivemos estas mesmas fortes impressões da cidade de Comodoro Rivadavia e mais ainda de outra cidade próxima chamada Caleta Olívia que eu optaria por morar sem muitas dúvidas.
Suerte 14 x 0 Suerte mala

03/04/2006 – Segunda-feira – Lunes
Estamos chegando ao nosso destino principal, hoje atravessamos o estreito de Magalhães e isto é viver a história que aprendemos na escola. Fácil ver a ousadia do Fernão de Magalhães em descobrir este novo caminho para o Pacífico.
 
Já fizemos as aduanas desta parte do trajeto e em todas elas o atendimento foi correto. A parte de estrada de ripel desta etapa (Estavam trabalhando acelerado o que significa que em breve tudo será asfalto tapete) não é boa e isto valoriza os motoristas que fazem este percurso, um respeito enorme um pelo outro com todos diminuindo a velocidade quando se passam assim evitando o perigo das pedras no pára-brisa. A impressão maior neste percurso final é que efetivamente parece que estamos chegando onde o mundo faz a volta, uma planície gigantesca acentua a impressão que a curva do planeta se acentuou. Surpresa mesmo é ver a Terra do Fogo ser tão fértil, o verde nos gigantescos pastos com grandes boiadas, uma imensa população de carneiros, gansos e outros compõe este visual. Dormimos na aduana Argentina e amanhã iremos a Río Grande e Ushuaia.
Suerte 15 x 0 Suerte mala

04/04/2006 – Terça-feira – Martes
A Terra do Fogo é muito mais do que fértil, ela é fabulosamente linda e a estrada do Río Grande ao Ushuaia passa a ser a mais espetacular entre todas que já andamos sin ver él no da para tener la fe.
Tierra Del Fuego
 
Chegando a Ushuaia erramos o caminho do camping e chegamos por engano ao sopé do cerro Martial, não deu outra, já pegamos o teleférico e fomos bem próximo às neves do pico. Visão espetacular com o estreito de Beagle incluído.



Tenho que retornar a lembrança da estrada – Inicialmente nela aparecem imensas florestas com árvores desconhecidas, árvores que cabem perfeitamente em um cenário de extrema desolação, o musgo pendurado em seus galhos balançando ao som de um vento uivante. Prosseguindo estas florestas vão ganhando vida com folhas onde o vermelho predomina junto com os verdes, amarelos e pratas. Estas florestas sobem pelas montanhas que são inúmeras e enormes e elas se acabam no começo da neve dos cumes. Estas montanhas são a últimas coisas que nos separa do Ushuaia e se passa por elas através do Paso Garibaldi. Cada metro é um cartão postal com seus lagos altíssimos e esta exuberância de vida.
Ficamos hospedados no camping Pico e por uma feliz coincidência, suerte of course era o último dia deles de funcionamento, no dia seguinte eles iriam fechar por causa do inicio do inverno.

A temperatura no momento ainda estava agradável nos seus cinco graus, mas lá o inverno é coisa muito séria e o turismo funciona a toda nesta época, só não para motor-home. Passeamos na cidade o resto do dia e acabamos montando barraca em uma linda loja chamada Dulces de la Oma onde compramos 3 877 vidros de geléia com lindas embalagens e mais um monte de lembranças, um pouco para nós e a maioria absoluta para os amigos. Também fomos a uma loja de cartões postais onde enviamos alguns para terem o selo e o carimbo do fim do mundo. (Os amigos receberam estes cartões postais quase um ano depois, com selos do México cortesia da empresa ferroviária de lá, coisas do fim do mundo).
Ushuaia
 
Tinha um desejo profundo de completar esta ida ao fim do mundo pegando um meio de transporte para a Isla de Hornos, uma base naval chilena que é o último lugar antes da Antártida. Não conseguimos em parte, tinha o navio e levava oito dias e sem nenhuma garantia de sucesso, se o mar estivesse doido eles não chegam e o mar fica doido por lá 420 dias por ano. Vamos tentar pelo Chile de avião ou helicóptero, pelo menos é o mesmo país.
Suerte 16 x 0 Suerte mala – Este percalço da Isla de Hornos é uma titica perto do resto então...

05/04/2006 – Quarta-feira – MiércolesAmanheceu chovendo então decidimos ir a Punta Arenas ver se conseguíamos um avião para Cabo Horn. Na estrada o clima virou o bicho, ventos de 100 quilômetros para mais (Confirmado na fronteira) que fecharam a balsa que faz a ligação pelo estreito de Magalhães (O serviço de balsas fecha cada vez que o vento ultrapassa a velocidade de 100 km/h). Esperamos até a noite quando foi liberado o serviço. Nós e mais 12 456 caminhões. Surpreendente e nós não tínhamos analisado isto na vinda porque fomos o primeiro a entrar na balsa a quantidade que elas carregam. Nesta volta depois de esperarmos um bocado entramos no rebolo. Um fio de cabelo nos separava dos outros caminhões e aí não estou aumentando e diminuindo nada quantitativamente. Para eu chegar à tesouraria da balsa era somente andando por cima deles, por baixo e se tinha outro caminho ninguém devia saber, pois os outros motoristas estavam fazendo igual. Quando voltei falei para a Iara que seria impossível não haver um rala rala nas latarias e eis que eu estava errado, a balsa balançava, mas tudo balançava igual e nota dez para aquele pessoal que além de muito atenciosos são profissionais de alto quilate. Dormimos na base naval já do lado argentino onde também foram muito prestativos arrumando um lugar maravilhoso para estacionar. Nada mal acordar de manhã e olhar para o estreito de Magalhães. Um pingüim solitário nos deu bom dia.
Uma curiosidade que antecede, neste mesmo dia já em território chileno, nós paramos para almoçar em um restaurante, esperando ele ser servido fiquei olhando as fotos dos visitantes deste lugar e eis que aparece uma de um avião e seu piloto ao lado e escrito o número do seu telefone, chamei o garçom e pedi o telefone para ligar e daí... E daí que o piloto estava próximo, ele tinha uma fazenda de criação de carneiros e justamente naquele dia era o de dar banho na bicharada. Fui até lá e o caboclo era genial, conversamos longamente sobre a possibilidade do vôo, pois esta era a sua profissão principal e ele falou que era impossível porque nem helicóptero pousa lá devido aos fortíssimos e imprevisíveis ventos confirmando para nós que mesmo de navio é necessário suerte. Perguntei se ele voava num dia como aquele que nós estávamos e isto ele diz que é comum. Como conhecemos a Patagônia sempre com vento não vi nenhum motivo para não acreditar. Hasta la vista Cabo Horn, outra vez com mais paciência arriscaremos um navio. Idem para Punta Arenas e Puerto Natales, agora o objetivo é o cerro Fitz Roy e o Calafate.
Sugestão para os futuros viajantes para o Ushuaia:
Depois do estreito ou então antes por Punta Arenas existem três caminhos, o tradicional que vai pela esquerda, o do meio que se pega por Cerro Sombrero/Onaisin ou então via balsa por Punta Arenas que é uma por dia e leva três horas de passagem. Experimentamos as duas primeiras e ambas são semelhantes em piso então pelo menos pela tradicional tem mais tráfego o que ajuda se houver algum problema. E a outra de qualquer maneira até a fronteira que liga a Punta é estrada de ripel igual.
Suerte 17 x 0 Suerte mala

06/04/2006 – Quinta-feira – Jueves
Acabamos no cruzamento decidindo ir a Punta Arenas, viagem fácil graças ao asfalto tapete. Ventos perfeitos para soltar pipa, na Patagônia estes ventos são conhecidos como a vassoura do diabo então faz parte da aventura.
Valeu para dizermos que conhecemos o Chile de Arica a Punta. A cidade não tem um encanto especial apesar de bonita, é zona franca e carrega um tipo de pessoa que não faz nosso gosto. Mas visitamos as lojas e ficamos abobados pelos produtos a venda, muito baixo os preços e uma variedade interessante. Acabamos gastando um monte comprando ½ dúzia de pães, cinco cocas e uma garrafa de água mineral. O nosso instinto consumidor estava em baixa hehehe. Em compensação o almoço foi campeão, uma dobradinha a Espanhola de tirar lágrimas de tão gostosa que estava. Voltamos à tardezinha e não fizemos mais nada porque as placas de sinalização estavam muito confusas e não conseguimos chegar às Pinguineiras tão famosas naquela cidade. Novamente não se sentimos bem no Chile e fomos dormir novamente na aduana da Argentina onde até um filhote de cachorrinho nos ofereceram como companhia permanente. Amanhã Calafate. Uma outra curiosidade foram os inúmeros campos com placas alertando que eles estavam minados!
Suerte 18 x 0 Suerte mala

07/04/2006 – Sexta-feira – Viernes
Erramos a estrada para o Calafate e entramos na cidade de Rio Gallego onde fomos pedir informação em um posto YPF/ACA que tinha um teto tão baixo que ficamos presos. Foi necessário esvaziar os pneus além da rapaziada do posto entrar no carro para ele baixar. O problema foi o calibrador do posto ser muito impreciso nos obrigando a procurar uma gomeria para ajustar a pressão. Saldo final foi à cobertura do ar condiciona quebrada, passamos silicone e tudo ok.
Com redundância - tremendos ventos até Calafate em uma estrada que repousa em um planalto gigantesco até chegar ao topo de uma colina onde se vê um vale enorme rodeado de montanhas nevadas e mais um lago imenso de águas esverdeadas. A Iara apontou uma montanha distante e disse que era o Fitz Roy, eu achei que não era possível de ver ainda, mas ela estava certa, era a montanha que eu acho a mais linda no universo das montanhas.
Calafate é uma cidade totalmente voltada ao turismo e deixamos para ver na volta e seguimos direto para o Glacial Perito Moreno, espetacular sin ver él no da para tener la fe.
Andamos a pé na excelente infra-estrutura de visita e decidimos pernoitar em um hotel dentro do parque até porque haveria F1 naquele final de semana. Que maravilha! Que orgulho! Não ficamos no hotel, mas em compensação tive o prazer de ouvir o maior preço de diária da minha vida US$700.00 por cabeça. Fomos dormir no porto onde de manhã estava programado um passeio de navio pelo braço sul da geleira.
Suerte 19 x 0 Suerte mala – O problema do teto baixo foi apenas um percalço, não diminui este dia de sorte.

08/04/2006 – Sábado – Sábado
Dia Magnífico, o passeio de navio sensacional e pudemos admirar o glacial de uma maneira diferente. Tinha um fotógrafo no navio e nos deixamos fotografar por ele, quando fui buscar ele fornecia apenas em digital o que eu não queria (Agora já estou no mundo digital) então combinamos que eu iria buscar na cidade de Calafate. Que surpresa ao entrar na sua loja a noite que estava cheia e uma pessoa me chamar dizendo que a minha estava pronta e isto sem eu falar nada. A melhor foto da viagem sem dúvida.


Para não dizer que tudo são flores aconteceu um contratempo que explica bem o espírito argentino da fazer as coisas, chegando a Calafate pela hora do almoço eu precisava de uma ótica para apertar um micro parafuso na armação dos meus óculos e cheguei bem no momento que eles estavam fechando, inacreditável, não apertaram o maldito porque estavam fechando e eles estavam lá dentro ainda. Arf, para ser feliz lá tem que se obedecer às regras que no final são simples e contemplam muito bem ao turista que as obedece.
Calafate acabou sendo super agradável, almoçamos, passeamos, fizemos compras e jantamos em clima muito amistoso. Basta dizer que nas idas e vindas parecia que já morávamos a tempo lá, cumprimentos de conhecimento foram freqüentes.
Ficamos estacionados em um camping da policia, excelente e com a vantagem de ser bem no centro da cidade.
Vimos com as agências de turismo a melhor forma de chegar ao Fitz Roy, acabamos por optar em ir de motor-home torcendo que amanhã o dia se repita no clima.
Suerte 20 x 0 Suerte mala

09/04/2006 – Domingo – Domingo
Saímos de calafate com destino a El Chalten cidade próxima ao Fitz Roy, à estrada estava em processo de asfaltamento e acabamos decidindo por deixar esta montanha na reserva para a próxima viagem. Como a Iara insistiu que podíamos vê-la no alto da colina iniciamos a volta. Bom, no alto da colina pegamos o binóculo e demos zoom na máquina fotográfica e lá estava ele...

Importante aos viajantes, é necessário abastecer em La Esperanza para chegar a Piedra Buena. Não fiz isto e tivemos que retornar a Rio Gallego. Fomos dormir em Piedra Buena.
Como curiosidade: Encontramos um caboclo fazendo toda aquela região de mobilette (Algo similar) com uns 200 quilos de equipamento em cima, que ninguém se engane pensando que a nossa aventura é temerária, encontramos vários que fazem isto de bicicleta sendo que um deles era da Nova Zelândia.
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10/04/2006 – Segunda-feira – Lunes
Voltamos a Puerto San Julian. Lá é o equivalente ao nosso Porto Seguro, foi realizada a primeira missa católica na Argentina pelos portugueses comandados por Fernão de Magalhães. Visitamos a réplica em tamanho natural da caravela Victória com o qual Hernando Magalhães descobriu e cartografou o estreito que une o Atlântico ao Pacífico e que hoje leva seu nome.

Uma curiosidade que responde a uma pergunta – Porque os navegadores atuais ainda utilizam o Cabo Horn para atravessarem a América do Sul? Pois é, o estreito de Magalhães é relativamente calmo em seu trajeto com exceção da foz para o Pacífico, aí é tão tenebroso por suas ondas violentas e ventos alucinantes que é melhor enfrentar a longa dureza do mar do Cabo Horn do que estas curtas horas tão mortais. E o Magalhães fez isto de caravela arf, a que está em exposição no posto Sinuelo na estrada de Joinville/Curitiba é muito semelhante em tamanho.
Íamos visitar as pinguineiras de San Julian, porém as estradas são de ripel e choveu a noite e isto vira uma armadilha dolorida que já conhecemos na Península Valdez.
Viajamos o tempo todo com muita chuva e no momento estamos parados em Comodoro Rivadavia para fazermos a revisão do carro amanhã.
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11/04/2006 – Terça-feira – Martes
Revisão efetuada, pessoal novamente muito atencioso e profissional. Passeamos pela praia cuja característica é marés com grande diferença o que deixa uma longa margem de recifes expostos, muitos pássaros fazendo a festa.
Seguimos viagem com chuva e agora nós parados em Puerto Madrid em um platô isolado longe e em cima da cidade com uma vista espetacular continua chovendo. Isto invalida qualquer tentativa de contornar Valdez, talvez e somente Puerto Pyramide onde talvez haja focas. Veremos amanhã.
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12/04/2006 – Quarta-feira – Miércoles
Descemos a Puerto Madrid para abastecer e fomos a Puerto Pyramide ainda com chuvas se alternando. Encontramos no mirante um casal também de motor-home o Rubens e a Delia que são de uma cidade perto de Buenos Aires chamada La Plata.

Tomamos café e trocamos figurinhas, quando comentei que o Paso de Jama estava asfaltado ficaram encantados e iriam para lá logo em seguida. Eles carregam um quadriciclo tração nas quatro e assim fica mais simples de melhorar alguns passeios. Já imaginei o meu objeto de desejo hehehe. (Agora já está se tornando realidade e o próximo motor-home que está sendo construído vêm com garagem e o quadriciclo já está lá também)
Puerto Pyramide é magnífico, um passeio por si só que também compensa a viagem, não vimos às focas, em troca almoçamos maravilhosamente bem (Com fotos da Lady Dy almoçando lá também) e andamos um bocado.
Puerto Madrid e Pyramide são considerados por eles (Os argentinos of course) as capitais mundiais do mergulho (Buceo).
Pegamos à estrada que estava muito movimentada e estamos fazendo o pernoite em San Antonio Oeste.
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13/04/2006 – Quinta-feira – JuevesViajamos o tempo todo com chuva o que inibiu qualquer vontade de entrar em cidades ou lugares. Íamos seguir em direção a Rosário, mas em Bahia Blanca não achamos nenhuma indicação da Ruta 33. Consequentemente seguimos a Ruta 3 para Buenos Aires pela Cidade Azul. Neste momento estamos parados para dormir próximo a Tres Arroyos no estacionamento do primeiro pedágio da volta.
Suerte 25 x 0 Suerte mala – Estar viajando mesmo em um dia mais ou menos ainda é muito bom.

14/04/2006 – Sexta-feira – Viernes
Viajando direto de novo, desta vez com sol. Pernoitamos a poucos quilômetros de Rosário em um posto YPF. Dureza está sendo a falta de placas de sinalização.
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15/04/2006 – Sábado – SábadoViajem o dia todo e paramos a uns duzentos quilômetros de Resistência. Hoje passamos Rosário e Santa Fé. Que estrada, que estrada...
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16/04/2006 – Domingo – DomingoViagem o dia todo e parte da noite para chegar ao Brasil. Meia e noite e pouco chegamos e fomos à aduana, pelo caminho errado e o teto era baixo. Ficamos presos no travessão sem possibilidade de ré e para frente mais cinco travessões nos aguardavam. Todos os fiscais foram nos ajudar se acomodando na traseira do carro para abaixá-lo e isto contando com os 3 890 quilos de geléia que tínhamos no bagageiro. Isto atenuou, mas não o suficiente, abaixar os pneus estava fora de cogitação pela falta de uma bomba de ar próxima então mandamos ver e o ar condicionado velho de batidas na sua testa se desmantelou. Desanimados seguimos em frente lentamente e fomos pernoitar no posto Acarai (Paradão) onde estamos agora.
Suerte 27 x 1 Suerte mala – A ferida no motor-home mexeu muito comigo.

17/04/2006 – Segunda-feiraSabemos com certeza que estamos no Brasil, seis horas da manhã o movimento já é grande e às sete horas já tinha gente trabalhando. Na Argentina isto não acontece mesmo (Somente a partir das nove horas) e a tarde a sesta é obrigatória. (Meio dia as quatro). Demos sorte neste posto porque tinha uma bela oficina chamada Mercadão de Caminhões (?) e um dos mecânicos e eu subimos no telhado do carro e incrível, todos os cacos da cobertura do ar e mais a máquina tortinha estavam lá em cima. Eu considerei caso perdido, mas o mecânico comentou algo assim – É mole pro gato ou deixa para o beque... Não é que o caboclo juntou a cacarada procurou uma fábrica que lidava com fibra (Não deu certo, a fibra não cola neste plástico) voltou com a má noticia e não desanimou, pegou uma carcaça de climatizador e recortando pedaços foi colando em outros pedaços acabou montando a capa inteira, depois subiu e desentorta daqui e dali e o ar funcionou. Isto terminou às duas horas da tarde quando nos entregou o serviço. E ele nos cobrou exatamente R$27,00 que me recusei a pagar pela injustiça do preço.
A Iara e eu fomos almoçar neste tempo no Deville de Foz, excepcional restaurante!
Depois do Paradão fomos procurar a concessionária para a troca do óleo que estava baixo (A densidade dos líquidos tem a haver com a latitude?) e foram também muito atenciosos dando uma geral no carro e neste tempo a Iara e eu se divertimos com um camelô de produtos importados comprando desde isqueiro que acende a luz a canivete automático por uma mixaria incrível.
Na concessionária pensaram que fazíamos parte de um grupo de motor-home que estava acampada em Foz, mais precisamente na beira do lago de Itaipu. Fomos até lá conferir e realmente havia dezenas de carros em um lugar espetacular que sem dúvida voltaremos.
Pegamos à estrada e estamos dormindo em Catanduva.
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18/04/2006 – Terça-feiraEm casa! Ops na segunda casa.
Suerte 29 x 1 Suerte mala – E tem gente que quer viver tanto se em poucos dias é possível viver tanto!

E a foto abaixo? Hehehe esta é outra história.